São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Masp: passado, presente e futuro
JÚLIO NEVES
Como todo museu, o Masp é uma instituição que tem por finalidade a salvaguarda, a valorização cultural e a ampliação do seu patrimônio artístico, mantendo sobretudo inalterada sua vocação originária, que é tríplice: histórica, internacional e metropolitana. Por histórica, entendemos que o Masp não pretende substituir os museus de arte contemporânea. Por internacional, que o Masp não é um museu restrito à arte que se produz dentro de nossas fronteiras. Por metropolitano, enfim, compreendemos que o Masp não é um museu de belas-artes, na acepção do termo na história dos grandes museus europeus, mas uma instituição aberta à pluralidade dos universos artísticos oriundos das mais diversas civilizações. É bem verdade que oferecemos prevalentemente ao nosso público um leque representativo do que de melhor se produziu na arte ocidental, dos séculos 13 ao 20. Mas é parte constitutiva da vocação do museu educar também para a arqueologia clássica, bem como para a vida espiritual de outras civilizações. O Masp, espelho de nossa caleidoscópica cidade, deve acolher todas as tradições histórico-artísticas, por vezes milenares, dos povos que a construíram. Seguem daí duas consequências, que balizam a consecução das metas estratégicas do museu. A primeira é que, embora continue empenhado em promover exposições de grande envergadura, o Masp não deve definir como sua prioridade a realização de exposições temporárias. Estas competem aos centros culturais, institutos culturais e entidades congêneres, que vêm se desincumbindo à perfeição dessa tarefa. O Masp atuará sempre, no concerto dessas iniciativas, como uma voz importante, mas sem presunção de hegemonia. A segunda consequência é igualmente evidente. Uma vez preparado e equipado para conservar seu patrimônio, a agenda do museu é a mesma de qualquer outro dotado de um grande acervo: educar sua comunidade para o usufruto adequado e o enriquecimento de suas próprias coleções, reforçando sempre mais sua identidade como instituição. O desafio é imenso, e tanto mais para um museu que, como o Masp, deve fazer face a custos sempre superiores à renda obtida por seus ingressos. Tal desafio demanda, antes de mais nada, uma ampliação considerável de atividades didáticas, hoje bravamente assumidas pela Escola do Masp e por seu serviço educativo. Tal desafio demanda também uma campanha para a aquisição de acervo, com recursos que deverão provir preponderantemente de nossas lideranças empresariais, e com o apoio dos incentivos oferecidos pela legislação. Para a realização dessas duas metas, a direção do Museu está criando o Instituto Masp, instrumento fundamental para a arregimentação desses recursos. A missão do Masp foi, é, e continuará sendo, em última instância, educar para a arte e para a mensagem espiritual consignada na história das civilizações de que é fruto nossa sociedade. O apoio ativo dela é fundamental para o cumprimento dessa missão. Júlio Neves, 70, arquiteto e urbanista, é presidente do Masp (Museu de Arte de São Paulo). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Oswaldo Siciliano: No combate à fome de livro Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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