São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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CHINA E BRASIL

O Produto Interno Bruto brasileiro cresceu de US$ 390 bilhões em 1992 para US$ 500 bilhões em 2003. Já o PIB da China, país que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ora visita, saltou, no mesmo período, de US$ 280 bilhões para US$ 1,4 trilhão. A despeito das enormes diferenças na forma de organização das duas sociedades, como poderiam ser explicadas trajetórias tão distintas? Uma economia que era menor do que a brasileira passou a ser quase o triplo desta em uma década!
A estratégia de inserção internacional adotada pelos dois países pode auxiliar na compreensão dessas trajetórias. A China preparou e conduziu sua integração global pela via do comércio e pela atração de investimento estrangeiro direto destinado a setores com maiores taxas de expansão nas transações internacionais. Dessa forma, o gigante asiático foi capaz de aproveitar a onda de expansão das empresas transnacionais, sobretudo das americanas, mas também das japonesas e européias, que deslocaram a produção de peças e componentes para economias com menor custo de mão-de-obra.
As estratégias de atração de investimento estrangeiro incluem: a) dois regimes aduaneiros -um mais elevado para as importações destinadas ao mercado interno, outro menor para as importações de bens a serem transformados e destinados a mercado externo; b) parcerias entre empresas estrangeiras e estatais para transferência de tecnologia; c) regras para as empresas transnacionais gerarem os recursos em moeda estrangeira que pretendem remeter às matrizes.
Essa política esteve associada também à garantia estatal de taxas de câmbio reais competitivas e estáveis mediante intervenções no mercado cambial e controles rigorosos sobre a conta de capital. Como resultado, a participação das exportações no PIB chinês pulou de apenas 6% em 1980 para 23% em 2000. O fluxo médio de investimento estrangeiro direto recebido pela economia chinesa, de US$ 25,5 bilhões entre 1991 e 1996, saltou para US$ 44,7 bilhões entre 1997 e 2002. As reservas internacionais alcançaram US$ 440 bilhões no final de 2003.
A estratégia brasileira foi bem outra. O país optou pela abertura da conta de capital, vale dizer, a integração aos fluxos financeiros internacionais. A entrada de investimento estrangeiro direto foi realizada sobretudo mediante fusões e aquisições, muitas das quais por meio de privatizações, que não geraram aumento relevante de capacidade produtiva e, ademais, concentraram-se em setores que não trazem divisas -como serviços públicos e financeiros. O resultado é sobejamente conhecido: elevado endividamento externo, ameaça de crise cambial recorrente, elevadas taxas de juros, baixas taxas de crescimento, alto nível de desemprego e queda do investimento público e privado.
A viagem do presidente Lula é bastante oportuna. Além da oportunidade de observar "in loco" a experiência chinesa, são promissoras as perspectivas de intercâmbio. Acordos bilaterais podem aprofundar o comércio, os investimentos e a transferência de tecnologia entre os dois países. As exportações brasileiras para a China saltaram de US$ 2,3 bilhões em 2000 para US$ 4,5 bilhões em 2003, mas ainda representam apenas 1% das importações chinesas. A maior aproximação entre os dois países pode representar também o fortalecimento das posições defendidas pelo Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC). Trata-se, portanto, em inúmeros sentidos, de uma visita de alta relevância.



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