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CARLOS HEITOR CONY
Maiúsculas e minúsculas
RIO DE JANEIRO - Nos anos 70, um
jornal carioca contratou sofisticada
equipe de revisores para dar correção, transparência e uniformidade
aos textos de seus redatores, repórteres e colunistas. Entre as regras
trazidas pela equipe, figurava a
cristalina evidência de que o alfabeto então em vigor havia cassado
o "y", o "k" e o "w".
Cassar, por sinal, era mania da
época. Nas poucas vezes em que
era citado, meu nome passou a ser
Coni. Quando saiu um dos volumes
das memórias de JK, o nome do ex-presidente passou a ser JC -sigla
que habitualmente indica Jesus
Cristo.
Kubitschek era pouco citado, por
motivos políticos, mas quando o
era, transformou-se em Cubitscheque. A regra da revisão era: "Qualquer um escreve o próprio nome como quiser. Mas a redação só tem
compromisso com as regras oficiais
da ortografia". Ok. Quer dizer:
óquei.
Escrevi uma crônica em que falava na "Soberana Graça do Santo Sepulcro", título de ridícula ordem
nobiliárquica que não sei se ainda
existe. As maiúsculas foram para a
cucuia, incluindo as do Santo Sepulcro, que até os judeus, que estão
em outra, chamam de Santo Sepulcro, com maiúsculas. Mais ou menos como Pão de Açúcar, que em
inglês é Sugar Loaf, sempre com
maiúsculas.
A correção de textos devia ter sido estendida à reprodução de quadros. Com um computador de última geração, pode-se corrigir aquele
caos de "Guernica", com cavalo e
mulher aos pedaços, bem como toda a obra de Brake, Picasso e Dali.
Virtualmente -e virtuosamente-, poder-se-ia corrigir imagens e
fotos para maior unidade, transparência e compreensão por parte dos
leitores. Chegaram a ameaçar as
maiúsculas do Pão de Açúcar. Ficaríamos reduzidos ao pão de açúcar,
que, como todos sabem, é um pão
feito com açúcar muito apreciado
no Rio de Janeiro.
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