São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Quem é dono da verdade?

BRASÍLIA - O PT e seus partidários pedem, quase exigem, que todo mundo saia por aí defendendo do nada os petistas da Prefeitura de Santo André, hoje sob suspeita. Alegam que tudo é jogo sujo de adversário.
Já os governistas, estão se deliciando com o escândalo petista e querem ver sangue. Alegam que o PT destrói reputações com facilidade e está sendo vítima do próprio veneno.
PT e governo têm lá, cada um, suas boas razões, mas o que interessa é a verdade. É o que os promotores denunciam, as testemunhas dizem, os acusados respondem. Ou os promotores só são sérios, alguns até heróicos, quando o alvo é o governo FHC?
Do ponto de vista político: foi-se definitivamente o tempo do namorico entre tucanos de esquerda e petistas moderados para escantear Ciro Gomes e Anthony Garotinho e para preparar um segundo turno entre si.
Bastou Lula disparar e acenar com uma (improvável) vitória no primeiro turno. Bastou Serra mostrar que as armas de governo nunca são desprezíveis em campanhas. Os namorados rapidamente viraram adversários.
No início, apenas estranhavam-se. Agora, estão quase se atracando. E o segundo turno nem começou ainda. O que ele projeta -se for mesmo Lula e Serra, como indicam as pesquisas- é um debate de esquerda e de centro-esquerda sobre como e com que limites inserir o Brasil no mundo sem violentar interesses e princípios nacionais básicos.
Mas, se os tucanos ajudarem a elite mesquinha a deturpar fatos e a enlamear a imagem do PT e se os petistas alimentarem a guerra de dossiês contra os adversários, o debate mudará de patamar. E ninguém vai ganhar.
Na Itália, país tão politizado, foi assim. Os italianos se decepcionaram com o centro-esquerda, depois com a esquerda e, finalmente, com todos, até chegarem à direita populista de Berlusconi, símbolo do desencanto.
Há algo errado na Prefeitura de Santo André, e tudo precisa ficar muito claro, até mesmo quem é quem. O PT não tem o direito de escamotear a verdade. Seus inimigos têm menos ainda o de deturpá-la.



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