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São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2003

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O "JOGO DA DIREITA"

No esforço que tem feito para conter a insatisfação de seus próprios militantes com as diretrizes do novo governo, o PT já recorreu a uma série de medidas, como a tentativa de convencimento, repreensões, advertências e ameaça de expulsão. Os resultados não têm sido animadores para a cúpula partidária. Com o encaminhamento da reforma da Previdência, a estridência dos dissidentes elevou-se. O tópico referente à taxação de inativos vem alimentando manifestações do funcionalismo com apoio aberto de parlamentares e militantes do PT.
Incapaz de domar seus Babás e Heloísas Helenas, para citar dois símbolos da rebeldia esquerdista, a cúpula petista parece não saber mais a que expedientes recorrer. Na abertura do 48º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), o presidente do partido, José Genoino, lançou mão de um conhecido raciocínio político: as críticas endereçadas ao governo por aliados fariam "o jogo da extrema direita".
Há muito tempo não se ouvia esse argumento surrado, tão característico de governos e militantes da velha esquerda. Era o se costumava dizer, à época da União Soviética, aos críticos da burocracia, do stalinismo e do autoritarismo socialista. Quem, mesmo de esquerda, e ainda coberto de razão, disparasse contra a "pátria do socialismo" estaria sempre "fazendo o jogo da direita". Era, portanto, recomendável e preferível silenciar sobre os evidentes desvios a enfraquecer a causa socialista aos olhos dos partidários da "reação".
É compreensível o desconforto do PT com suas hostes esquerdistas. A gritaria dos dissidentes atrapalha, enfraquece as medidas governamentais, despende energias. Seria, no entanto, mais racional se o partido pudesse convencer seus militantes de que está agindo corretamente e que segue um projeto coerente com suas tradições. É essa a grande dificuldade: até aqui a administração Lula limitou-se, a par da retórica e com pequenas variações, a reproduzir políticas da gestão anterior.
Não era o que estava no programa.


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