São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2006

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Relato do caos

É DO senador norte-americano Hiram Johnson a frase: "A primeira vítima, quando começa a guerra, é a verdade". O presidente George Bush está em guerra. Fez há pouco uma visita ao Iraque e voltou com declarações otimistas sobre o país.
A embaixada norte-americana em Bagdá, entretanto, traça um retrato mais sombrio do Iraque. Memorando confidencial despachado pelo embaixador Zalmay Khalilzad ao Departamento de Estado que vazou para o jornal "The Washington Post" relata as dificuldades enfrentadas pelos funcionários iraquianos que trabalham na representação.
Quando retornam a suas casas, enfrentam um quadro de caos, que inclui o convívio com bandos armados impondo suas próprias leis sobre a vizinhança e a falta de itens básicos como eletricidade e gasolina. Mulheres são pressionadas por religiosos a usar véu, cobrir o rosto e renunciar a dirigir carros e utilizar celulares.
Por vezes, esses funcionários precisam esconder que trabalham para os EUA até de parentes, notícia que poderia precipitar dentro da família as tensões políticas e religiosas que rasgam o país. O simples fato de trabalharem na embaixada já os coloca entre uma pequena minoria privilegiada por ter emprego e acesso a autoridades, prerrogativas que não estão ao alcance da maioria da população iraquiana.
O memorando traz também informações de um editor árabe segundo quem estariam ocorrendo casos de "limpeza étnica" em todas as Províncias.
Espera-se que Bush esteja sendo informado da real situação no Iraque para tomar decisões. Para o público, seguirá insistindo na rósea versão da propaganda oficial. Jamais admitiria que invadiu o Iraque sob uma alegação falsa e que a ação tornou o país, em alguns aspectos, mais inseguro e miserável que sob a ditadura de Saddam Hussein.


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