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Relato do caos
É
DO senador norte-americano Hiram Johnson a frase:
"A primeira vítima, quando
começa a guerra, é a verdade". O
presidente George Bush está em
guerra. Fez há pouco uma visita
ao Iraque e voltou com declarações otimistas sobre o país.
A embaixada norte-americana
em Bagdá, entretanto, traça um
retrato mais sombrio do Iraque.
Memorando confidencial despachado pelo embaixador Zalmay
Khalilzad ao Departamento de
Estado que vazou para o jornal
"The Washington Post" relata as
dificuldades enfrentadas pelos
funcionários iraquianos que trabalham na representação.
Quando retornam a suas casas,
enfrentam um quadro de caos,
que inclui o convívio com bandos
armados impondo suas próprias
leis sobre a vizinhança e a falta de
itens básicos como eletricidade e
gasolina. Mulheres são pressionadas por religiosos a usar véu,
cobrir o rosto e renunciar a dirigir carros e utilizar celulares.
Por vezes, esses funcionários
precisam esconder que trabalham para os EUA até de parentes, notícia que poderia precipitar dentro da família as tensões
políticas e religiosas que rasgam
o país. O simples fato de trabalharem na embaixada já os coloca entre uma pequena minoria
privilegiada por ter emprego e
acesso a autoridades, prerrogativas que não estão ao alcance da
maioria da população iraquiana.
O memorando traz também
informações de um editor árabe
segundo quem estariam ocorrendo casos de "limpeza étnica"
em todas as Províncias.
Espera-se que Bush esteja sendo informado da real situação no
Iraque para tomar decisões. Para
o público, seguirá insistindo na
rósea versão da propaganda oficial. Jamais admitiria que invadiu o Iraque sob uma alegação
falsa e que a ação tornou o país,
em alguns aspectos, mais inseguro e miserável que sob a ditadura
de Saddam Hussein.
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