São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Cães e cia.

SÃO PAULO - Se gosta de cachorro pode. Também pode perguntar se gosta de rock'n roll, de poesia ou de boxe. Isso pode. O que não pode é promoção. Se ela falar "vou mudar o trânsito" -isso não pode.
O trecho reproduz o pensamento da promotora Patrícia Aude, registrado em entrevista à repórter Lilian Christofoletti. A doutora se referia à entrevista da Folha com Marta Suplicy, pela qual Aude e mais três colegas acusaram o jornal de fazer propaganda fora do tempo.
Não sei se brincar de Teletubbies pode, mas, depois de conhecer tais idéias, tive o impulso de pedir a Elio Gaspari o telefone de Eremildo. O Idiota não podia atender. Esforçava-se para entender a sentença do juiz Francisco Carlos Shintate.
Ironia não pode? Quem disse?
Não deixa também de ser irônico que a promotora, na defesa de seu ponto, acabe mimetizando, sem se dar conta, a tendência da mídia e da sociedade atual, que é a de entupir o leitor com frivolidades e "faits divers" da intimidade e pasteurizar a política, que ninguém mais tolera.
Falemos agora sério. Quem melhor resumiu o equívoco dessa turma foi Dora Kramer, em sua coluna no "Estadão", na quinta: "Escutaram o barulho do debate sobre o ativismo cívico que sacode os tribunais (...) e encontraram a pior maneira de embarcar na onda do rigor". Acabaram patrocinando "não mais um caso de excesso de zelo, mas de desvio, ou de zelo à deriva".
Ou seja: as boas intenções dos luminares pariram uma batatada.
A um jornalista -e não só- é sempre útil se perguntar "para que serve a imprensa?" ou "a quem ela serve?". A discussão pode ser boa.
Da mesma forma: para que serve a Justiça Eleitoral? E a quem?
Entre nós, tem servido para proteger os políticos, e não os direitos do eleitor, além de ser um instrumento de inibição -quando não de censura- do debate, em prejuízo do público. Num país em que as idéias circulam miseravelmente, a Justiça Eleitoral, volúvel e de vocação tutelar, contribui para produzir monstros. Às vezes até cachorros.


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