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Três consensos
ANTONIO DELFIM NETTO
Os eventos dos últimos meses parecem ter levado, finalmente, a um consenso sobre os seguintes pontos, há
muito absorvidos pelos "vieux économistes":
1) Qualquer regime cambial tem de
escolher dois entre três objetivos altamente desejáveis: a) política monetária autônoma, b) taxa de câmbio fixa e
c) liberdade de movimento de capitais. A combinação deles, dois a dois,
produz os diferentes regimes conhecidos. Assim, o regime de Bretton
Woods foi produzido combinando
uma política monetária autônoma
com taxa de câmbio fixa, excluindo a
liberdade de movimento de capitais. A
combinação de uma taxa de câmbio
fixa com a liberdade de movimento de
capitais, excluindo, portanto, a política monetária autônoma e, logo, abdicando do controle do nível de atividade do país, resulta no "currency
board". E, finalmente, combinando a
política monetária autônoma com a liberdade de movimento dos capitais,
exclui-se o câmbio fixo e temos o regime do câmbio flutuante.
Não existe um sistema cambial ideal.
Todos eles têm virtudes e defeitos. A
virtude está em escolher o regime que
melhor convém ao desenvolvimento
do país e que possa compatibilizar o
equilíbrio interno (pleno uso da capacidade produtiva e da mão-de-obra
disponível e inflação parecida com a
dos parceiros) com o equilíbrio externo (déficit em conta corrente sustentável). Como os países desenvolvidos
caminharam para a flutuação cambial,
exatamente para garantir a possibilidade de controlar o seu nível de atividade, nem o regime de câmbio fixo
nem o regime de "currency board"
seriam opções adequadas para nós. A
escolha que o Brasil fez pelo câmbio
flutuante parece, portanto, a mais
acertada.
2) A despeito de muita sofisticação
na construção de modelos das crises
cambiais nos últimos 20 anos, a acumulação de informações sugere que,
em última instância, elas são sempre
geradas por uma incompatibilidade
entre o equilíbrio interno e o equilíbrio externo. Às vezes um país com
câmbio fixo é obrigado a reduzir sua
taxa de juros e aumentar os gastos públicos porque enfrenta um longo e
permanente desemprego já não aceito
pela sociedade. Deslancha, assim,
uma pressão irresistível sobre a taxa
de câmbio. Outras vezes, para sustentar a taxa de câmbio, sacrifica o nível
de atividade e o emprego pela elevação da taxa de juros. O custo da operação vai se tornando insuportável e a
percepção dos operadores é que a política não é sustentável por muito tempo. Instala-se uma dúvida que leva a
ataques contra a taxa cambial. Foi isso
o que aconteceu com o Brasil: a inconsistência entre o equilíbrio interno
(alto desemprego) e o equilíbrio externo (sustentado com altas taxas de juros) levou à crise cambial e à mudança
do regime.
3) O câmbio flutuante flutua para
reduzir a volatilidade da taxa de juros.
Isso é um pouco mais do que um
truísmo. Como reconheceu ms. Haimalainen, do Comitê de Política do
Banco Central Europeu, "se estabilizarmos a taxa de câmbio, vamos ter
volatilidade na taxa de juros, e esta é
ainda mais prejudicial para os investimentos e para a credibilidade da política monetária".
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta
coluna.
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