São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2003 |
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ANTONIO DELFIM NETTO Lavoura da salvação
No meio da cacofonia produzida
por "ruídos" de toda sorte nas últimas semanas, um setor afinou seus
instrumentos: a agricultura. Ele também não tem sido poupado das ações
perturbadoras que se produzem dentro do governo ou pelo menos com a
sua complacência. É o caso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra, que, a cada momento, vai revelando que o importante não é ter terra,
é organizar a sociedade brasileira de
acordo com generosos propósitos: nada menos do que eliminar a propriedade privada e construir um mundo
igualitário, ainda que miserável. Erra
quem pensa que a "complacência" foi
o ato simbólico do presidente Lula de
colocar o boné do MST. "Complacência" é a liberdade com que são usadas
as verbas do Orçamento para estabelecer e sustentar materialmente as invasões. Tudo de que o MST precisa é a
lei, como demonstrou em silêncio o
governador de São Paulo. O aumento deu-se, basicamente, pela ampliação da produtividade/ha, estimulada pela pesquisa genética da Embrapa, pelo uso de insumos modernos e pelo programa Moderfrota, que mostrou ao país que, em circunstâncias adequadas, podem-se construir setores com vantagens comparativas. O Brasil só não sofreu consequências ainda mais graves da vulnerabilidade externa em que foi metido porque o setor do agronegócio propiciou superávits comerciais crescentes. O presidente Lula foi muito feliz ao escolher um "não-companheiro" para comandar o ministério da Agricultura, o agrônomo Roberto Rodrigues, um ST (sem partido), figura reconhecidamente competente (até pelo seu DNA!). Sem alarde e sem "bater a cabeça" com ninguém do governo, o ministro Rodrigues obteve do Ministério da Fazenda, em tempo hábil, o Plano Agrícola e Pecuário para 2003/ 04 com recursos de R$ 32,5 bilhões (na safra 2002/03, o montante do crédito oficial foi de R$ 27 bilhões) e garantiu as linhas de crédito com juros de 8,75%. Houve também um avanço do seguro agrícola. Os assentamentos rurais, por mais organizados que sejam, continuarão com uma produção marginal para autoconsumo e não terão importância na oferta para o mercado. Talvez um efeito mais significativo seja produzido pela ampliação do estímulo às cooperativas de crédito. Mas há alguns problemas graves: 1º) a Embrapa está sendo sucateada por falta de verba. Sua falta vai ser sentida logo adiante e, 2º) se não enfrentarmos com inteligência e sem preconceitos o problema dos transgênicos, uma boa parte desse enorme e bem-sucedido esforço vai terminar sendo a maior trapalhada do governo Lula... Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna. dep.delfimnetto@camara.gov.br Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Opinião pessoal Próximo Texto: Frases Índice |
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