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São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Por um novo trabalhismo

PAULO PEREIRA DA SILVA

Recentemente filiei-me ao Partido Democrático Trabalhista, o PDT, partido ao qual fora filiado de 1983 a 1993. Desde então estava no PTB, partido pelo qual fui candidato a vice-presidente da República na chapa de Ciro Gomes, do PPS. Os três partidos -PDT, PTB e PPS- formaram a Frente Trabalhista e estudavam sua fusão em um único partido depois da vitória de Ciro, que infelizmente não ocorreu. Desfiliei-me do PTB no início do ano, quando o partido ingressou na base de apoio do governo Lula, que apoiamos no segundo turno.
Fiquei sem partido até há pouco, mas tal situação não podia perdurar. Desde 1994 a Força Sindical, que nasceu democrática, pluralista e suprapartidária, vem discutindo formas de participar efetivamente da vida do país, não só nos fóruns de discussão do governo, do empresariado e das demais entidades da sociedade civil organizada, mas também na vida partidária. Parece-nos claro que, sem participar com nossos representantes eleitos no Congresso Nacional e nos vários níveis do Executivo, a luta dos trabalhadores ou será inútil ou terá resultados limitados.
Dirigentes da Força Sindical ou não estão em partido nenhum ou foram se filiando a vários partidos, a maioria deles progressista, no espectro do que se chamava antes de "esquerda". Discutiremos com eles a necessidade de terem intensa vida partidária, de preferência no PDT. Mas o pluralismo da central será mantido: é fundamental o respeito aos que quiserem continuar nos partidos em que sempre militaram.
É consenso entre nós que um trabalhismo moderno e articulado não pode prosperar sem que o partido tenha uma aliança com uma grande base sindical. O trabalhismo nasceu assim, na era Vargas, quando participou ativamente da vida política e econômica de um país que se industrializava e começava a trilhar os caminhos da democracia, infelizmente interrompidos em 1964, com o golpe militar.


O presidente Lula pode estar sendo enganado -como outros presidentes o foram-por assessores ortodoxos

Quase 40 anos depois, as condições são extremamente propícias para a rearticulação das verdadeiras forças trabalhistas em torno do grande e histórico líder Leonel Brizola, com quem estreitei os laços ao longo da campanha presidencial. Tanto ele quanto eu entendemos que o mundo e o Brasil mudaram muito nas últimas décadas e que nosso país precisa de reformas amplas e profundas. Ambos sabemos que tais reformas precisam acabar com os privilégios iníquos, obtidos de maneira imoral -às vezes até ilegal- por uma elite que vive à custa do Estado e da sociedade.
Tanto ele quanto eu sabemos que o país precisa de um novo modelo econômico e social, pois uma nação pode até crescer e se tornar rica, mas não será democrática e justa se tal riqueza não for distribuída. Ambos sabemos que cabe ao Estado suprir seus cidadãos com serviços de alta qualidade, principalmente na saúde, na educação, no saneamento, na segurança e na infra-estrutura.
E mais, nós sabemos que um trabalhismo moderno se sustenta quando o partido e os sindicatos de sua base dedicam-se ao diálogo crítico e respeitoso tanto com o capital quanto com o governo, participando juntos da construção desse novo modelo, criticando os excessos do capitalismo selvagem e os possíveis erros do governo. Esse tem sido o comportamento da Força Sindical desde sua fundação. Sempre reagimos com ironia aos que nos acusaram de estar a serviço do governo, principalmente do anterior, pelo fato de que apoiamos a reeleição do presidente.
Ora, para tristeza dos trabalhadores, o governo reeleito não honrou os compromissos assumidos na campanha, persistindo num modelo econômico que continuou transferindo renda do setor produtivo para o financeiro. Uma pesada herança, com a qual o atual governo se defronta, num momento aliás bastante delicado, em que a sociedade organizada já se dividiu, parte com mais paciência, parte já ansiosa pelo início das mudanças prometidas.
Não foi por outro motivo, senão por discordar desse modelo, que apoiamos o candidato de oposição Ciro Gomes e, no segundo turno, o próprio Lula. Agora no PDT, manteremos nossa coerência: confiamos nas promessas do presidente Lula, mas suspeitamos de que a manutenção da política econômica do governo anterior não será boa para os trabalhadores e cidadãos. Apesar das justificativas da equipe econômica, consideramos que o presidente Lula pode estar sendo enganado -como outros presidentes o foram- por assessores ortodoxos e excessivamente cautelosos em seus movimentos (ou não-movimentos) na direção de mudanças necessárias e substanciais.
Nos últimos meses, integrantes do PTB solicitaram meu retorno ao partido, ao mesmo tempo em que recebi propostas para filiação ao PPS, ao PSDB e até ao PPB (hoje PP). Minha decisão já foi tomada: será no PDT, na vida partidária e sindical interligadas, cada qual no seu papel, juntando forças, que continuaremos lutando pela verdadeira e necessária transformação econômica, social e cultural do país.

Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, 47, é o presidente nacional da Força Sindical.


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