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Credor em dólar
Melhora nas contas externas do Brasil abre a possibilidade de aperfeiçoar as políticas fiscal e monetária
OS SALDOS positivos em
transações correntes,
provenientes dos elevados superávits na
balança comercial, combinados
com os fluxos de capitais privados, permitiram uma notável
melhora das contas externas da
economia brasileira. A acumulação de reservas internacionais
possibilitou ao Tesouro Nacional
antecipar o pagamento de seus
empréstimos com o Fundo Monetário Internacional e o Clube
de Paris. Foram resgatados títulos associados à renegociação da
dívida externa na primeira metade da década de 1990.
Em julho, diante desses movimentos de redução do endividamento do setor público e ampliação das reservas em moeda estrangeira, o governo brasileiro se
tornou credor em dólar. O estoque de dívida externa do setor
público atinge US$ 63,3 bilhões,
enquanto as reservas internacionais somam US$ 64 bilhões, o
que gera um saldo positivo de
US$ 734,7 milhões.
A despeito do elevado custo de
aquisição das reservas internacionais no mercado doméstico
-uma vez que o Tesouro Nacional precisa emitir títulos da dívida pública para enxugar a liquidez gerada pela operação no
mercado cambial-, houve uma
considerável redução da vulnerabilidade externa do país.
Essa melhora nas contas externas contribuiu para a queda
acentuada do risco-Brasil, calculado pelo JP Morgan, que representa uma medida da probabilidade de solvência internacional
da economia brasileira. Resultou
também no melhor acesso das
empresas domésticas ao mercado financeiro internacional. A
dívida externa do setor privado
voltou a crescer, alcançando US$
66,6 bilhões em maio de 2006.
Esses fatos, num contexto global favorável, indicam que houve
um relativo equacionamento do
desajuste que, nos anos recentes,
esteve na base das crises por que
passou a economia brasileira.
O cenário internacional benigno foi reforçado no último depoimento do presidente do Fed - o
banco central dos EUA-, Ben
Bernanke. Para ele, embora a inflação americana esteja mais alta
do que o esperado, a economia
do país estaria num "período de
transição para um crescimento
moderado", e esse "desaquecimento viria acompanhado de
uma desaceleração da inflação".
Se os juros não subirem muito
mais, a economia dos Estados
Unidos manterá seu relativo dinamismo, impulsionando a produção e o comércio global e sustentando os preços das commodities e a liquidez no planeta.
Esse cenário abre possibilidades para a realização de aperfeiçoamentos na gestão das políticas fiscal e monetária no Brasil.
A persistência do movimento de
queda da taxa de juros de curto
prazo (Selic), a fim de diminuir o
diferencial entre a taxa de juros
doméstica e a internacional, é
absolutamente crucial para inibir a tendência de valorização da
moeda brasileira em um cenário
externo com apetite pelo risco. É
crucial, também, para facilitar a
redução do estoque de dívida do
setor público e fomentar o dinamismo dos investimentos públicos e privados, dando mais sustentação ao crescimento.
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