|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Educação e democracia
Embora fosse desejável, um
grau de escolaridade mais elevado do eleitor brasileiro não acarretaria necessariamente mais "qualidade" no voto -seja lá o que isso
signifique. A ressalva se faz necessária no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral divulga estatísticas acerca do nível educacional do eleitorado. Diante dos
dados, tradicionais questionamentos sobre a capacidade de escolha dos cidadãos reaparecem.
A cada 5 brasileiros aptos a votar, 1 é analfabeto ou nunca foi à
escola, revela o TSE. Tal eleitor, na
visão de alguns analistas, votaria
de forma menos "consciente" e teria menor capacidade de discernir
as diversas propostas políticas e
ideológicas que se apresentam.
Sua decisão seria mais suscetível a
estímulos imediatos, como benesses ou troca de favores. Políticos
populistas e sem escrúpulos tenderiam a se beneficiar da situação.
A "prova" do raciocínio estaria
na falta de qualidade dos mandatários brasileiros. Mas o encadeamento de argumentos falha. Embora ainda baixa, a escolaridade
dos eleitores tem crescido. A parcela dos que não frequentaram a
escola era, segundo a estimativa
do TSE, de 26,9%, em 2000, e é
agora de 20,5% do eleitorado.
De acordo com o Datafolha, a
participação no conjunto do eleitorado das pessoas que têm no
máximo o ensino fundamental
completo também cai -elas representavam 67% dos entrevistados em 1995, 59% em 2000 e são
48% do total agora.
Seria de esperar que a qualidade dos congressistas brasileiros
fosse melhor hoje do que há dez
anos, portanto -e ainda muito
melhor do que há 15 anos. Mas será difícil encontrar pesquisador
que demonstre tal evolução.
A qualidade do debate público,
e portanto da política, melhorará,
de alguma forma, com a elevação
do nível educacional, mas é preciso evitar relações de causa e efeito
simplistas, que mais se prestam a
deslegitimar as escolhas e reforçar
estereótipos equivocados.
Ainda segundo o TSE, o Nordeste é a região brasileira que, proporcionalmente, mais concentra
eleitores analfabetos ou pessoas
que nunca frequentaram a escola
-são 35% do total, contra 12% no
Sudeste. Haverá alguém capaz de
afirmar que políticos pernambucanos ou cearenses são, de forma
geral, piores do que seus colegas
do Rio e de São Paulo?
Texto Anterior: Editoriais: Decisão previsível Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Ficha Rica Índice
|