|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Frases do Joel
RIO DE JANEIRO - A incapacidade do cronista em fazer frases inteligentes levou-o a admirar aqueles
que são capazes de fazê-lo, como
Nelson Rodrigues, o mais famoso e
citado de todos, seguido de perto
por Otto Lara Resende, a quem precariamente substituo neste canto
de página desde 1993.
Outro que admiro e louvo é Joel
Silveira, que morreu na semana
passada. Lembrarei algumas delas.
Estávamos presos no Batalhão de
Guardas, em São Cristóvão, desde o
dia 13 de dezembro de 1968, quando
foi baixado o AI-5. Certa manhã, da
única janela de que dispúnhamos,
vimos chegar ao pátio do quartel
um camburão trazendo famoso empresário daquele tempo. Joel encheu o peito e gritou: "Aqui é prisão
de subversivo. Prisão de ladrão é em
outro lugar!".
Perguntaram a ele qual o jornal
mais poderoso do mundo. Joel respondeu que era o "New York Times". E acrescentou: "Se quiserem
destruí-lo, basta me chamarem para diretor de redação. Em menos de
um mês levo o jornal à falência".
Numa reunião com estudantes,
quiseram saber de Joel por que nos
Estados Unidos não havia golpe de
Estado. Ele respondeu na bucha:
"Porque lá não tem embaixada
americana".
Nascido em Lagarto (Sergipe),
Joel se orgulhava de seu burgo natal
ter sido o único em que Lampião
não entrara. Rubem Braga dizia que
em Lagarto não havia nada para assaltar. Joel tinha outra explicação:
"É uma cidade boa para se sair, não
para se entrar".
Num trabalho que fizemos juntos, na Itália, levei-o para almoçar
no Dodici Apostoli, em Verona,
quase ao lado da antiga sede da
Mondadori. Ele examinou o restaurante, encomendou vários pratos,
bebeu duas garrafas de chianti e me
pediu: "Manda dizer lá para o Rio
que o jornalista Joel Magno Ribeiro
Silveira não sai mais daqui".
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Mensaleiros e margaridas Próximo Texto: Kenneth Maxwell: Fim de jogo Índice
|