São Paulo, terça-feira, 23 de agosto de 2011

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O Brasil e a primavera

Atuação cautelosa do país foi correta em relação à Líbia, mas equivocada no caso da Síria, ao aproximar-se demais de um regime sanguinário O ataque das forças rebeldes ao núcleo do regime de Muammar Gaddafi, na Líbia, é uma oportunidade para avaliar o desempenho do Brasil diante da chamada Primavera Árabe -o levante contra regimes autoritários no norte da África e no Oriente Médio.
Quando se trata de países onde a queda da ditadura deu-se de maneira inconteste e fulminante, como no Egito e na Tunísia, há pouco a avaliar. A comunidade internacional festeja o fim da opressão e apoia a transição pacífica para um regime de representação popular, com respeito às minorias.
São os processos arrastados e nebulosos, como na Líbia e na Síria, que impõem desafios à diplomacia. O saldo para o Brasil é favorável apenas no primeiro caso.
O governo da presidente Dilma Rousseff condenou, nas Nações Unidas, a violência do ditador Muammar Gaddafi contra a população líbia. Absteve-se, no entanto, de apoiar a resolução que autorizou o uso de força militar pelo Conselho de Segurança.
O argumento a favor dos bombardeios era a proteção de civis, diante do massacre anunciado contra o bastião rebelde de Benghazi, no leste. Mas a ação, como ficou patente, objetivava mesmo a troca de regime na Líbia.
A ofensiva final dos rebeldes rumo à capital, Trípoli, foi coordenada com bombardeios das potências ocidentais. Sob a letra fria do mandato conferido pelas Nações Unidas, a ação da Otan foi ilegal.
O término de uma ditadura brutal de 42 anos, que liquidou adversários e patrocinou o terror internacional, é fato a ser saudado. O protagonista único dessa derrubada, entretanto, deveria ser a população líbia. Bombardeios ocidentais ofensivos ferem o princípio da autodeterminação dos povos, que não foi abolido, embora conciliá-lo com a proteção dos direitos humanos seja sempre difícil.
Já na crise síria, o Itamaraty se saiu mal. O Brasil resistiu a qualquer reprimenda mais dura contra o ditador Bashar Assad. Endossou uma declaração crítica da ONU apenas quando a extensão do massacre contra civis tornou insustentável a posição brasileira.
Além disso, o Itamaraty integrou uma missão, em conjunto com Índia e África do Sul, que foi à Síria ouvir solenemente os argumentos do ditador, enquanto seus tanques invadiam cidades e chacinavam a população. Para piorar, a nota após o encontro com Assad clamava pelo término da violência "de todos os lados". Um vexame.
Cautela e moderação de atitudes são marcas da melhor tradição diplomática brasileira. Aplicar esses princípios no Oriente Médio, onde nossos interesses econômicos são rarefeitos, deveria ser a norma.


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