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FERNANDO RODRIGUES
O escravo das "qualis"
BRASÍLIA - Com um teleprompter à sua frente, Lula discursou: "Eu
sou o maior interessado em apurar
o que aconteceu nesse negócio do
dossiê. Eu quero saber de onde veio
o dinheiro, sim. Eu quero saber toda a tramóia que houve. Mas sobretudo eu quero saber que diabo de
conteúdo que há nesse dossiê que
pessoas cometeram a enroscada
que cometeram".
O presidente foi adestrado para
repetir em público o que os seus
eleitores fiéis têm falado nas chamadas "qualis", as pesquisas qualitativas -quando um grupo de eleitores fica numa sala discutindo enquanto especialistas atrás de um espelho falso observam tudo.
As "qualis" mostram que os eleitores das classes C, D e E não entendem direito o caso do "dossiegate".
Muitos nomes. Gedimar, Valdebran, Freud e até um homônimo de
marca de chuveiro.
Os eleitores lulistas perguntam
sempre "que dossiê era esse" e
acham que o governo "não pode jogar para debaixo do tapete". É o que
Lula repete agora toda vez que aparece em público.
Ao se tornar um escravo das pesquisas qualitativas, Lula tomou um
rumo claro nesta reta final.
Antes do "dossiegate", o petista
sonhava em ter a maior votação da
história num primeiro turno -o recorde é de Eurico Gaspar Dutra,
que, no longínquo 1945, foi eleito
com 55% dos votos válidos.
Abalroado pela crise atual, Lula
está agora apenas preocupado em
manter os seus eleitores mais fiéis.
Retroalimenta esse grupo com os
argumentos que eles gostam de ouvir. Quer dessa forma tentar estancar uma eventual sangria de votos
quando o caso avançar com a divulgação da origem do dinheiro sujo
usado na operação.
É impossível prever se Lula terá
êxito. Mas até ele já parece saber
que sua vitória, se vier, pode ser menor do que a esperada.
frodriguesbsb@uol.com.br
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