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CARLOS HEITOR CONY
Debatendo os debates
RIO DE JANEIRO - Mais uma vez, e como sempre, estou na contramão do
consenso, um dos quais, em época
eleitoral, é a importância do debate
na TV entre os candidatos a cargos
eletivos. Os marqueteiros e colunistas
especializados acreditam que Kerry
diante de Bush, ou Marta diante de
Serra, consumidos pelos milhões de
telespectadores que acumulam a função de eleitores, ganharão ou perderão de acordo com a performance
diante das câmaras.
É evidente que um ou outro eleitor
assistirá ao debate e, se estiver indeciso, poderá decidir se vota em A ou em
B. Esse contingente de indecisos é pequeno. Nos Estados Unidos, onde o
voto não é obrigatório, há a tendência de se votar num dos partidos, há o
voto republicano e o democrático -e
este voto é que decide a questão.
No Brasil, onde praticamente não
há partidos, o eleitor vota em nomes,
caras e bocas, quase que da mesma
forma como torce pelo Flamengo ou
pelo Vasco, e não espera a última
partida entre os dois para mudar de
time. Tal como nos Estados Unidos e
em outros países, a turma dos indecisos é pequena.
Dizem que o último debate entre
Collor e Lula, em 1989, decidiu a fatura em favor do primeiro. Realmente, Collor se saiu melhor naquela ocasião, mas ele ganharia de qualquer
maneira. Sua campanha estava bem
azeitada, com imensos recursos, e havia o medo de uma vitória do PT. Lula não seria eleito naquela ocasião
nem mesmo se fizesse chover e descobrisse onde estão os ossos de Dana de
Teffé.
O mesmo se poderá dizer de Kerry e
de Bush, de Marta e de Serra. Um fato novo, de última hora, poderá mudar o voto do eleitorado. Mas não um
fato produzido, como o debate na
TV. Prova disso foi a vitória de Cesar
Maia no primeiro turno, aqui no Rio.
Os seus concorrentes uniram-se para
torpedear o prefeito, apontando as
falhas de sua gestão, que são e continuam sendo muitas. Não adiantou.
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