São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Livro
"Em dias desta semana, a jornalista Julia Duailibi pediu-me uma entrevista sobre um livro que ainda estou escrevendo sobre memórias dos anos que vivi e que, segundo penso, merecem divulgação. Eu disse-lhe que o livro ainda não está concluído, pois, como estamos ao final do mandato de Marta Suplicy, eu poria este último ano como mais uma etapa de minha vida. Não falei em bastidores do governo Marta Suplicy. Em primeiro lugar, porque não sou homem de bastidores. E, em segundo lugar, porque ignoro bastidores que possam existir na atual administração. Nessa afirmativa, que intitulou a reportagem "Hélio Bicudo vai lançar livro sobre os bastidores de governo" (Brasil, pág. A9, 22/10), que está inserida nas páginas que tratam das eleições 2004 e que não tem feições para isso, pode-se vislumbrar um certo conteúdo de má-fé para uma afirmativa atribuída a quem não o fez, num momento decisivo para o pleito da cidade de São Paulo. Quero também salientar que não é verdade que eu não teria ficado satisfeito com o processo que culminou na indicação do companheiro Rui para ser vice na chapa de Marta, pois tanto Marta como Rui e a direção do PT sabiam da minha intenção de não disputar novas posições políticas. O acerto feito pela prefeita sobre novas responsabilidades futuras a serem a mim atribuídas foi, para mim, a qualificação do apreço de meus companheiros de partido à minha dedicação à sua causa. Um reparo é sempre um remendo. O bom jornalismo não pode ir além da verdade e compadecer-se com sentimentos pessoais do redator da notícia."
Hélio Bicudo, prefeito em exercício de São Paulo (São Paulo, SP)

Fetos anencefálicos
"É incompreensível a decisão do STF de proibir a interrupção da gestação no caso de fetos com anencefalia. Toda mulher que passou por uma gravidez sabe o que isso significa: enjôos, azia, dores nas costas e nas pernas, inchaço, varizes, falta de ar e insônia nas fases mais adiantadas e, finalmente, as dores do parto. Tudo isso é compensado pela alegria de poder segurar nos braços um bebê. Obrigar uma mulher a passar por tudo isso sabendo de antemão que seu filho nascerá para ser enterrado é de uma crueldade enorme. Infelizmente, é impossível sentir as dores dos outros, mas imagine a seguinte situação: um filho seu ou ente querido sofreu um acidente que lhe destruiu irreversivelmente o cérebro. Não há mais nenhuma chance de vida para ele. Em vez de poder enterrá-lo, um juiz determina que ele deverá permanecer ligado a aparelhos por alguns meses , enquanto você passa por todos os sintomas que uma mulher sente durante a gravidez. Somente depois de passar por dores comparáveis às do parto você recebe a autorização de interromper esse sofrimento. Pois é exatamente isso que representa a decisão do STF. Os avanços tecnológicos têm permitido o diagnóstico de anencefalia em fases cada vez mais precoces da gravidez, o que permite a sua interrupção sem riscos para a mãe. E a decisão do STF, em vez de beneficiar a gestante, simplesmente aumenta o seu período de sofrimento."
Mayana Zatz, professora titular de genética e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano do Departamento de Biologia da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

Estranho voto
"Tantos e complexos problemas a serem resolvidos no nosso país e o respeitado senador Eduardo Matarazzo Suplicy ocupa a tribuna do Senado para requerer que "seja enviado às autoridades israelenses no Brasil um apelo no sentido de resguardar a vida, a liberdade e os direitos humanos do físico nuclear Mordechai Vanunu". O ilustre homem público, especialmente por ter laços estreitos com a comunidade judaica e por conhecer como poucos o histórico de cada nação em relação ao tema dos direitos humanos, sabe muito bem que o Estado de Israel sobressai no Oriente Médio como um país regido por uma democracia autêntica e por possuir o mais transparente e inquestionável Poder Judiciário da região. Ao dizer que está preocupado com a sorte de Mordechai Vanunu e ao enfatizar que o sentenciado "corre risco de ser preso novamente e teme ser assassinado, já que os jornais israelenses publicaram o endereço onde deveria morar", o ilustre senador contradiz sua postura de respeito e confiança na estrutura legal de uma nação soberana que resguarda os direitos de todos os cidadãos que nela vivem, mesmo que eles estejam cumprindo penas por delitos julgados com transparência e objetividade pela Justiça. Fosse outra autoridade, e não o senador Eduardo Matarazzo Suplicy, o autor do mencionado requerimento, até poderíamos nos calar e acreditar que, por trás do "voto de solidariedade", estivessem outros interesses, especialmente os de cunho político, que visam denegrir a imagem de um país permanentemente alvo de uma campanha de difamação que visa colocá-lo numa incômoda posição no concerto das nações livres e autenticamente democráticas."
Berel Aizenstein, membro da Confederação Israelita do Brasil (São Paulo, SP)

Iraque
"Ao ver o rosto em prantos da pobre Margaret Hassan, diretora da organização humanitária Care, seqüestrada no Iraque há alguns dias, implorando a Tony Blair que retire as tropas inglesas daquele país para que ela não seja decapitada (como já o foram tantos outros seqüestrados), um pensamento me veio à cabeça: por que os líderes islamitas mundiais não se pronunciam contra toda essa barbárie, pedindo o imediato fim dessas decapitações?"
Gilberto Assad (São Paulo, SP)

Periferia
"A nota "Tela", publicada na coluna de Mônica Bergamo (Ilustrada) em 21/10, relata-nos que o BNDES deve anunciar em breve a abertura de uma linha de financiamento para a instalação de mil salas de cinema pelo país. Espero que o bom senso seja usado e que as salas não sejam construídas em bairros nobres, e sim nas periferias das metrópoles."
Marcos Barbosa (Casa Branca, SP)

Farmácias
"Na reportagem "Regulamentação de farmácias magistrais é falha" (Cotidiano, 17/10), foi atribuída a mim uma afirmação que não condiz com o contexto da entrevista que dei. No penúltimo parágrafo, consta que eu teria dito que "as farmácias adotaram uma prática nefasta dos laboratórios, oferecendo propina pela indicação dos médicos". Na verdade, minha afirmação sobre o envolvimento entre farmácias e médicos foi a seguinte: "O que eu tenho notícias é em relação à visitação dos médicos feita pelas farmácias. Assim como para as indústrias, essa prática é questionável, principalmente se estiver associada ao oferecimento de vantagens aos médicos para a indicação de determinados produtos. Se as farmácias estão com esse tipo de prática, que era geralmente atribuída aos laboratórios, as farmácias adotaram uma prática nefasta. Isso deveria ser combatido com ênfase, pois pode ser configurado como crime"."
Silas Paulo Resende Gouveia, assessor técnico da Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica (São Paulo, SP)


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