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Balde de óleo frio
Crise financeira mundial força Petrobras a rever investimento do pré-sal; pausa poderá também tornar debate mais sóbrio
O PRESIDENTE Lula precisou de várias semanas para dar-se conta
da ficção embutida na
idéia de descolamento da economia brasileira em relação à crise
mundial. O otimismo demorou a
ceder no confronto com os fatos;
em paralelo, escasseavam referências entusiásticas à cornucópia do pré-sal. Esse percurso da
retórica governamental se completa agora com a sóbria entrevista do presidente da Petrobras
a esta Folha, na qual indica que o
cenário global afetará "fortemente" a exploração das jazidas.
Se antes já eram muitas as incógnitas sobre os novos recursos
e a melhor maneira de financiar
sua exploração, um desafio técnico sem igual, com a contração
generalizada do crédito as incertezas se multiplicam. Some-se a
isso o preço do petróleo, já abaixo de US$ 70, e o panorama fica
ainda mais anuviado.
José Sergio Gabrielli, da Petrobras, ainda pareceu contaminado de otimismo ao dizer que,
mesmo na hipótese de o preço
do petróleo cair a US$ 50, a exploração da camada de pré-sal
não fica inviabilizada. Com efeito, nada garante que a baixa
prossiga, num mercado que vai
de US$ 150 o barril para menos
da metade em três meses. Mas,
com a desaceleração da economia internacional, tampouco se
descarta que venha a estabilizar-se abaixo de US$ 70. Isso poria o
pré-sal numa faixa de risco, pois
alguns especialistas chegam a
estimar em até US$ 70 o preço
mínimo viável.
Por outro lado, o presidente da
Petrobras tem razão ao apontar
que o efeito mais acentuado da
crise se dará na capacidade da
estatal de levantar o financiamento necessário. Calcula-se
que a exploração pode exigir até
US$ 1 trilhão de investimentos.
Na quadra atual, faz sentido
alongar o planejamento para
além de 2013, até para 2020.
A crise mundial representa a
oportunidade de devolver a discussão do pré-sal aos trilhos da
lógica. Até agora o governo federal vinha tentando fazer o carro
movimentar-se na frente dos
bois. O foco recaía numa extemporânea discussão acerca da participação e do controle do Estado sobre um recurso mineral em
essência mal conhecido.
Surge a oportunidade de avançar primeiro na caracterização
das jazidas. Apenas em 2009 serão realizados os testes de longa
duração, cruciais para verificar a
pressão dos poços e seus custos
operacionais. Depois, haverá que
garantir recursos para financiar
a exploração e, aí sim, compatibilizar tal fluxo de investimento
com um plausível aumento no
controle da União sobre o ritmo
de produção e em sua participação na receita.
A crise traz, porém, um risco
adicional: paralisar de vez o debate. Se antes o governo parecia
não saber direito o que fazer do
pré-sal, agora que o horizonte de
exploração se afasta pode caminhar para o extremo oposto e esquecer por completo a questão.
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