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ELIANE CANTANHÊDE
Surfando na "marolinha"
BRASÍLIA - O Brasil vai sediar na
próxima segunda uma reunião extraordinária de ministros do Exterior e da Economia de dez países da
América do Sul. São dois objetivos.
Um, econômico: discutir a crise financeira internacional e o que cada
um está fazendo para tentar se safar. Outro, político: ratificar sua posição de líder no continente.
O Brasil como a Inglaterra; Lula
como Gordon Brown, primeiro-ministro inglês. A Inglaterra saiu à
frente, injetando bilhões de euros
para salvar e estatizar bancos em
dificuldades, sendo seguida em
grande estilo pela União Européia
-aliás, como o Prêmio Nobel Paul
Krugman sugerira em artigos. Agora é o Brasil quem sai à frente, com
uma medida provisória que, na prática, permite ao governo sair estatizando tudo e toda empresa que passar pela frente, via Banco do Brasil e
Caixa Econômica Federal.
Essa MP, publicada no "Diário
Oficial" da União que circulou ontem, deverá ser a estrela do encontro de segunda, com participação de
Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Venezuela, Equador, Bolívia,
Chile, Peru e Colômbia. Ou seja,
desde os amigos brasileiros mais à
esquerda até os dois mais à direita.
Se o momento é tenso no mundo
inteiro, não seria diferente por estas bandas de acá. E com particularidades que interessam diretamente à política, à economia e à diplomacia brasileiras.
Numa pincelada, porque o espaço
é curto: 1) a crise pega a Argentina
de jeito, muito mais desequilibrada
economicamente do que o Brasil; 2)
a Venezuela à beira de um ataque de
nervos, com o preço do petróleo pela metade (e ele está para Hugo
Chávez como os cabelos para Sansão); 3) Equador e Bolívia só tratam
as empresas brasileiras nos cascos,
como se os créditos internacionais
estivessem fartos e fáceis; 4) o governo do Paraguai ainda engatinha
e afia as garras.
Bela chance, pois, para Lula surfar na "marolinha" antes de "cruzar
o Atlântico" e se reunir com o G-8.
elianec@uol.com.br
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