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VINICIUS TORRES FREIRE
Finanças, esquerda e Palocci
SÃO PAULO - Quem observa o queixume causado pelo ministério de Lula da Silva entre esquerdistas de todos os tons tem a impressão de que
FHC e Pedro Malan venceram. Mas
não se trata de dizer, como na reação
padrão da esquerda, que "a ortodoxia financeira" permanece.
A impressão de vitória ideológica
do governo morituro vem do fato de
que a crítica da esquerda acabou por
ser tragada pelo redemoinho financista que marcou o país na última década. Parece que nada mais importa
além do presidente do Banco Central
e quejandos. Em entrevista na Folha
de ontem, Antonio Palocci, futuro
ministro da Fazenda, ressalta esse
engano: a política monetária e fiscal
não pode presidir o país, como ocorreu nos últimos anos.
É evidente que definições sobre juros e gastos públicos têm papel central. Mas seriam menos importantes
decisões sobre energia e desenvolvimento de regiões pobres? No entanto,
isso é tratado como ninharia e como
se avanços nessas áreas fossem incompatíveis com a prudência financeira. Por que ministros de Minas e
Energia ou Cidades não causam discussão apaixonada?
Isto posto, não se quer dizer que
não havia alternativa à escolha dos
nomes e das idéias centrais para a
política econômica. Na Unicamp e
na Universidade Federal do Rio há
acadêmicos com idéias mais típicas
do PT. São capazes, embora inexperientes de mercado e com dificuldades para compor equipes operacionais. Basicamente, querem um país
mais fechado e têm visão muito diferente das causas e efeitos da inflação
no Brasil, embora não se conheçam
as políticas que adotariam para implementar suas idéias.
No presente e crítico momento das
finanças nacionais, o programa que
defendem provocaria uma convulsão econômica de resultado incerto a
não ser o afastamento do país do
mercado mundial. Uma transição
suave seria mais prudente e eficaz.
Caso tal transição dê certo, haverá
tranquilidade para dar início à mudança política e econômica de que o
país precisa e as idéias mais radicais
perderão de vez todo o sentido.
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