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CLÓVIS ROSSI
O profeta atropelado
SÃO PAULO - Os fóruns de Davos,
o grande convescote de todo janeiro
da elite política, empresarial e acadêmica do planeta, começam sempre com uma sessão de atualização
sobre a economia mundial. Neste
ano e em 2007, dela participou o
economista Nouriel Roubini, que se
tornou uma espécie de grande oráculo por ter sido um dos poucos, talvez o único, a prever a crise.
Antes, quem fazia o papel de "Mr.
Apocalipse" era Stephen Roach,
que havia acertado ao antecipar a
crise asiática. Depois, ano após ano,
previa a crise, que não vinha, até virar folclore. De economista-chefe
geral da Morgan Stanley passou a
economista-chefe apenas para a
Ásia e saiu da mesa de Davos.
No ano que vem, volta, no lugar
de Roubini, de acordo com o programa preliminar.
Este ano, coincidi com Roubini
no hotel Banhof Terminus, simpático três estrelas em frente à estação de trem. Não dava muito ibope,
não. Via-o no café da manhã sozinho, lendo o "Financial Times".
Imagino que, em 2009, estará em
um hotel no mínimo de quatro estrelas, talvez até no Belvédère, o
único hotel realmente de luxo na
pequena Davos (13 mil habitantes).
Imagino também que, no café da
manhã, dará consultas pagas, em
vez de jogar conversa fora de graça
com um jornalista.
Não sei a razão pela qual Roubini
não estará à mesa justamente agora
que a realidade é mais catastrófica
que seu catastrofismo. Talvez, aliás,
seja essa a razão. Para que o mundo
precisa de alguém que anuncia o o
apocalipse se o apocalipse está instalado?
Como prova, basta a entrevista
do governador do Banco da Espanha (o BC espanhol), Miguel Ángel
Fernández Ordoñez, publicada no
domingo por "El País": "Os consumidores não consomem, os empresários não contratam, os investidores não investem e os bancos não
emprestam". Se não é o apocalipse,
o que é apocalipse?
crossi@uol.com.br
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