São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

O profeta atropelado

SÃO PAULO - Os fóruns de Davos, o grande convescote de todo janeiro da elite política, empresarial e acadêmica do planeta, começam sempre com uma sessão de atualização sobre a economia mundial. Neste ano e em 2007, dela participou o economista Nouriel Roubini, que se tornou uma espécie de grande oráculo por ter sido um dos poucos, talvez o único, a prever a crise.
Antes, quem fazia o papel de "Mr. Apocalipse" era Stephen Roach, que havia acertado ao antecipar a crise asiática. Depois, ano após ano, previa a crise, que não vinha, até virar folclore. De economista-chefe geral da Morgan Stanley passou a economista-chefe apenas para a Ásia e saiu da mesa de Davos.
No ano que vem, volta, no lugar de Roubini, de acordo com o programa preliminar.
Este ano, coincidi com Roubini no hotel Banhof Terminus, simpático três estrelas em frente à estação de trem. Não dava muito ibope, não. Via-o no café da manhã sozinho, lendo o "Financial Times".
Imagino que, em 2009, estará em um hotel no mínimo de quatro estrelas, talvez até no Belvédère, o único hotel realmente de luxo na pequena Davos (13 mil habitantes).
Imagino também que, no café da manhã, dará consultas pagas, em vez de jogar conversa fora de graça com um jornalista.
Não sei a razão pela qual Roubini não estará à mesa justamente agora que a realidade é mais catastrófica que seu catastrofismo. Talvez, aliás, seja essa a razão. Para que o mundo precisa de alguém que anuncia o o apocalipse se o apocalipse está instalado?
Como prova, basta a entrevista do governador do Banco da Espanha (o BC espanhol), Miguel Ángel Fernández Ordoñez, publicada no domingo por "El País": "Os consumidores não consomem, os empresários não contratam, os investidores não investem e os bancos não emprestam". Se não é o apocalipse, o que é apocalipse?

crossi@uol.com.br


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