São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

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FERNANDO RODRIGUES

"Estaremos perdidos"

BRASÍLIA - A frase-síntese do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi captada pelo jornalista Guilherme Barros, ontem na Folha, ao reproduzir uma fala importante do ministro da Fazenda, Guido Mantega: "Se o país não crescer a 5%, todos estaremos perdidos".
A afirmação peremptória do ministro é uma demonstração lapidar de como funciona -ou não funciona- o governo Lula. Previsões sem conexão com a realidade são produzidas sem a menor preocupação com os seus efeitos.
Não é certo, mas é possível que Guido Mantega saiba que não "estaremos perdidos" se o país não crescer a 5%. Por que então um ministro de Estado produz tal declaração catastrofista? Uma hipótese é a dificuldade para se expressar. No governo Lula, compreensível. Outra possibilidade é a desídia com que o titular da Fazenda trata a sua função, lixando-se para a imprecisão de suas declarações.
Na cerimônia na qual apresentou o PAC a duas dezenas de governadores e políticos em geral, Guido Mantega utilizou um conjunto de transparências de qualidade sofrível. Flechas indicavam obviedades como a conexão entre "crescimento acelerado" e "investimento público e privado".
Ao lançar o PAC, o governo parecia pretender dar uma aula sobre a sua inação nos últimos quatro anos.
Submeteu a platéia qualificada a ouvir uma lista de obras irrelevantes, como a criação de 700 vagas no estacionamento de um aeroporto de Minas Gerais.
O governo Lula até hoje não enfrentou crise internacional de relevância. A China cresce sem parar.
Até a Argentina anda tranqüila. Com o seu time de ministros, uma turbulência internacional seria fatal para Lula. Guido Mantega apareceria com suas previsões mal feitas e poderia falar, sem medo de errar: "Estamos perdidos".


frodriguesbsb@uol.com.br

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