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FERNANDO RODRIGUES
"Estaremos perdidos"
BRASÍLIA - A frase-síntese do
PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento) foi captada pelo jornalista Guilherme Barros, ontem
na Folha, ao reproduzir uma fala
importante do ministro da Fazenda, Guido Mantega: "Se o país
não crescer a 5%, todos estaremos
perdidos".
A afirmação peremptória do ministro é uma demonstração lapidar
de como funciona -ou não funciona- o governo Lula. Previsões sem
conexão com a realidade são produzidas sem a menor preocupação
com os seus efeitos.
Não é certo, mas é possível que
Guido Mantega saiba que não "estaremos perdidos" se o país não
crescer a 5%. Por que então um ministro de Estado produz tal declaração catastrofista? Uma hipótese é
a dificuldade para se expressar. No
governo Lula, compreensível. Outra possibilidade é a desídia com
que o titular da Fazenda trata a sua
função, lixando-se para a imprecisão de suas declarações.
Na cerimônia na qual apresentou
o PAC a duas dezenas de governadores e políticos em geral, Guido
Mantega utilizou um conjunto de
transparências de qualidade sofrível. Flechas indicavam obviedades
como a conexão entre "crescimento acelerado" e "investimento público e privado".
Ao lançar o PAC, o governo parecia pretender dar uma aula sobre a
sua inação nos últimos quatro anos.
Submeteu a platéia qualificada a
ouvir uma lista de obras irrelevantes, como a criação de 700 vagas no
estacionamento de um aeroporto
de Minas Gerais.
O governo Lula até hoje não enfrentou crise internacional de relevância. A China cresce sem parar.
Até a Argentina anda tranqüila.
Com o seu time de ministros,
uma turbulência internacional seria fatal para Lula. Guido Mantega
apareceria com suas previsões mal
feitas e poderia falar, sem medo de
errar: "Estamos perdidos".
frodriguesbsb@uol.com.br
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