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CLÓVIS ROSSI
Grande momento, reação pequena
SÃO PAULO - Quando comecei no
"Estadão", faz já longos 45 anos, o
lendário jornalista Cláudio Abramo
havia saído pouco antes, mas legara
uma frase que seus contemporâneos repetiam aos que chegavam:
"Um grande jornal se conhece nos grandes momentos".
Pena que o governador José Serra, que conviveu com Abramo, já na
Folha, não tenha aprendido a lição, aplicada à política.
Se tivesse, saberia que é justamente em um "ano anômalo", como classificou este 2010, que começa horrível, que se conhecem os grandes administradores.
É verdade que as chuvas têm sido
excepcionais, que a cidade cresceu
de forma anárquica, que parte da
população não colabora jogando lixo em tudo quanto é canto, que
nem o prefeito nem o governador
podem dançar a dança da chuva para que caiam menos águas ou, ao
menos, que chova no mar, digamos.
Mas, dada a anomalia, que tal reagir a ela com um esquema igualmente fora do comum de defesa civil em todos os seus aspectos?
É tão difícil assim mobilizar todos os recursos da Companhia de
Engenharia de Tráfego e da Polícia
Militar para orientar os motoristas
e tentar evitar que caiam nas ratoeiras que as chuvas armam ou para tirá-los delas?
É tão difícil assim montar frentes
de trabalho emergenciais para limpar bueiros, córregos, rios, desobstruir enfim o máximo possível de
pontos de alagamento?
Não existem na cidade mais rica
do país especialistas em emergências para montar com eles e os funcionários públicos um gabinete de
crise para pronta reação?
Tanto Gilberto Kassab como Serra reagem burocraticamente, molemente, nesses "grandes momentos" -tristes, mas grandes. Não é
exatamente o comportamento que
se espera de quem se supõe que vai
disputar uma eleição presidencial
esgrimindo o bordão de gerente -e competente.
crossi@uol.com.br
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