São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A torre do Masp
ADIB D. JATENE
Pertenço a seu Conselho Consultivo desde 1972. Convivi com Bardi e Edmundo Monteiro por muitos anos, bem como com grandes figuras que já não estão entre nós, como Abreu Sodré, José Ermírio de Moraes Filho, Mário Pimenta Camargo e tantos outros a quem o museu tanto deve. Desde sempre, a preocupação foi com a atualização permanente e a evolução para atender às demandas crescentes do museu, limitado pelas ruas que o cercam. A única hipótese de ampliação, com ligação direta subterrânea, é representada por um prédio de dez andares, então residencial, desocupado e em deterioração, lindeiro ao museu. Desde a época em que Edmundo Monteiro era presidente, o prédio acalentava os sonhos dos que ansiavam pela ampliação da área física do museu, sonho longínquo diante da limitação financeira que permanentemente afligia a diretoria. As coisas começaram a mudar com a chegada de Júlio Neves à presidência. Arquiteto consagrado, dedicou-se a uma recuperação até então julgada impossível da obra de Lina. E isso desde a eliminação de cupim, a reprotensão da estrutura de concreto -aconselhada pelo escritório Figueiredo Ferraz, atrasada por alguns anos- e a instalação de um segundo elevador, o que permitiu o acesso de deficientes físicos a todos os pavimentos, até o expressivo ganho da área por escavação programada -que ampliou a área útil com todas as especificações técnicas para proteção e guarda do acervo e reinstalação da biblioteca. Tudo isso com doações obtidas de particulares e sem prejuízo de importantes mostras levadas a efeito durante todo o período necessário para a revitalização do Masp. Vencida essa etapa, o Conselho Deliberativo deu poderes à diretoria para fazer as gestões capazes de adquirir o referido prédio. Durante pelo menos cinco anos, as tentativas de obter patrocínio privado foram infrutíferas, já que não havia contrapartida atrativa a investimento de porte superior a uma dezena de milhões de reais. Foi quando nosso presidente-arquiteto imaginou complementar a utilização do prédio -que abrigaria toda a área administrativa e de restauro, mais uma completa escola de todos os aspectos de interesse do museu- com uma torre, em cujo ápice se instalasse um mirante e um café. Pela particularidade de a avenida Paulista ser o ponto mais elevado da cidade, um mirante a 120 metros acima da avenida propiciaria uma visão não só da cidade mas de toda a área metropolitana -e até, em dias propícios, áreas do litoral. Seria um inegável atrativo turístico. É importante assinalar que muitas antenas -algumas de gosto discutível- instaladas na região estão em nível mais elevado que a torre planejada. A contrapartida para a aquisição do prédio e doação ao Masp se limita à identificação da parceria com o museu durante o período de dez anos, o que não só ampliaria sua própria divulgação mas materializaria o sonho há muito acalentado, resolvendo simultaneamente o problema crônico do custeio, altamente oneroso para a instituição, com as dimensões, compromissos e importância do Masp. Contando com a aprovação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e do Condephaat (órgão estadual de patrimônio histórico) e do comando da Aeronáutica, bem como das diretrizes de órgãos da municipalidade (Sempla e Sehab), não se esperava o veto do Conpresp, órgão da Secretaria Municipal da Cultura. Ressalte-se que a torre recebeu apoio de renomados arquitetos e urbanistas, entre os quais vários ex-presidentes do Instituto dos Arquitetos, e de personalidades e entidades com tradição de luta pela melhoria da nossa cidade, como a Associação Paulista Viva e o Sindicato das Empresas de Turismo, entre outros. E nem se diga que torres desse tipo sejam originais, já que em grandes cidades do mundo elas existem e são intensamente freqüentadas por todos os que procuram apreciar em conjunto esses aglomerados urbanos. O Masp, diante do parecer contrário, recorreu ao próprio Conpresp. Seus representantes, atendidos no plenário do conselho, não conseguiram obter aprovação ao seu pleito, sendo a decisão de veto mantida. O argumento fundamental do Conpresp é que a torre alteraria a ambiência da região, competindo com o museu pela primazia da importância do local. Por outro lado, iria beneficiar empresa privada oferecendo local para sua divulgação. Essa decisão obrigou a direção do Masp a apelar ao Judiciário, contestando a proibição e solicitando o alvará para início das obras. Como sem a torre a aquisição do prédio pelo museu se inviabiliza, corre-se o risco de sepultar para sempre a única alternativa para a tão necessária e almejada ampliação do Masp. Adib D. Jatene, 76, cardiologista, professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, é presidente do Conselho Deliberativo do Masp. Foi ministro da Saúde (governos Collor e FHC) e secretário da Saúde do Estado de São Paulo (governo Maluf). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Jorge Zaverucha: Democracia não consolidada Índice |
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