São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A morte de um "moderado palestino"

DANIEL GAZIT

De todas as reações à morte do líder do movimento terrorista Hamas Ahmed Yassin, a que mais me causou impacto foi a do primeiro-ministro palestino, Ahmed Korei, chamando o xeque Yassin de "um líder moderado".
No conflito entre palestinos e israelenses já é costume o emprego estranho da linguagem. Parece que o mundo adotou e aceitou, muito facilmente, essa linguagem especial.
Medidas que Israel toma visando se defender, as quais não matam pessoas e que são de caráter provisório, são condenadas como atos criminosos. Um ato de defesa própria por parte de Israel é condenado como se fosse ilegítimo, ao mesmo tempo em que a existência aberta e pública de grupos terroristas antiisraelense é considerada legítima. Massacres de crianças israelenses em escolas, ônibus e discotecas são denominados "atos heróicos" de libertação nacional. Israel já sofreu inúmeros atos terroristas que, relativamente, para a população israelense têm a mesma magnitude do atentado de Madri. Entretanto ninguém fala do direito israelense de chorar, vingar ou parar o processo de paz.
Por outro lado, no momento em que um terrorista palestino morre, o mundo expressa a sua simpatia e entendimento às manifestações de ódio e vingança palestinos.
Já estamos acostumados a enterrar os nossos mortos em silêncio. Não procuramos mais a simpatia mundial, mas não deixaremos de lutar por nossas vidas, pela existência de nosso Estado e por Jerusalém, capital eterna do Estado de Israel.


Já estamos acostumados a enterrar os nossos mortos em silêncio. Não procuramos mais a simpatia mundial


Este é o momento adequado para o mundo conhecer o "moderado palestino" xeque Yassin, fundador do grupo terrorista Hamas, que orgulhosamente assumiu a responsabilidade por milhares de ataques e centenas de mortos civis israelenses. Segundo sua interpretação do islã, a matança de todos os israelenses, bebês, crianças, adultos e velhos, é justificada. Ele jamais aceitou a existência do Estado de Israel e jurou continuar a luta após o estabelecimento de um Estado palestino, até a destruição total de Israel. Esse é o tipo de moderado que rezou, em 29 de maio de 2003, pelo bem-estar e sucesso de outro "moderado", Osama bin Laden.
Se os moderados palestinos querem "apenas" destruir o Estado de Israel e nos matar a todos, o que desejam então os extremistas? De todos os modos os "moderados" estão se manifestando hoje, na faixa de Gaza, com o mesmo slogan que gritavam os seus pais, avós e bisavós, há mais de cem anos: "Itbach el yahood" (matem os judeus).
O terror palestino contra Israel aumentou mil vezes após a criação da Autoridade Palestina. Parece que essa é a forma que os palestinos acharam mais conveniente e eficaz para obter concessões por parte de Israel. Lamentavelmente para ambos, palestinos e israelenses, a lógica dos líderes palestinos é totalmente errada. É o caminho que pode levar todos à destruição, sem encontrar uma solução.
Há que lembrar que, se não fosse o ódio dos palestinos, eles já poderiam ter um Estado independente. Após recusarem a idéia da partilha da Terra Santa com os judeus, em 1947, os árabes tiveram em suas mãos todos os territórios hoje denominados "ocupados", inclusive Jerusalém Oriental. Eles poderiam ter declarado um Estado, mas preferiram fundar organizações terroristas, conclamando a destruição de Israel, antes do estabelecimento de um Estado palestino.
Nos últimos anos, os palestinos recusaram uma e outra vez ofertas de líderes israelenses para o estabelecimento de um Estado independente porque, segundo Arafat, essas ofertas não foram "suficientes" para as aspirações palestinas. Arafat decidiu que a única forma de pressionar Israel a fazer mais concessões seria não por meio de negociações, mas pela força do terror. Parece que ele, após mais de 40 anos de atividade terrorista, não conhece outro caminho. Sabe apenas matar e destruir, quando os palestinos necessitam de um líder que saiba construir.
Israel está pronto a fazer muitas concessões em prol da paz e já provou isso nos acordos com o Egito, Jordânia e com os próprios palestinos, em Oslo. Mas Israel não pode aceitar viver ao lado de um Estado dedicado a destruí-lo, onde os terroristas têm total liberdade para matar judeus, protegidos pela lei e por autoridades locais, como acontece hoje nos territórios sob o domínio da Autoridade Palestina.
O caminho para a paz terá início somente com o término do terror e quando um terrorista não mais for considerado "moderado".

Daniel Gazit, 58, historiador e cientista político, é o embaixador do Estado de Israel no Brasil.


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