São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 2011

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CLÓVIS ROSSI

O Itamaraty tucanou

BERLIM - Não dá para entender muito bem o que o Brasil quer no caso da Líbia. Primeiro, abstém-se na votação que acabaria impondo uma zona de exclusão aérea. Ou seja, não sabe se é bom ou se é ruim, dúvida com que se folclorizava o tucanato tempos atrás.
Depois, o chanceler Antonio Patriota produz uma frase candidata ao campeonato mundial de platitudes, ao afirmar que o governo brasileiro espera uma "transição benigna na Líbia". Quem não quer, fora meia dúzia de tarados?
Ah, o ministro ainda acrescentou que espera "o mínimo de violência, o mínimo de derramamento de sangue e que se estabeleça processo político que leve a uma transição benigna". Também espero.
Mas dá para explicar como poderia haver "mínimo de violência e de derramamento de sangue" se a comunidade internacional seguisse o Brasil e não votasse a zona de exclusão aérea? Patriota, como brilhante diplomata, sabe que Gaddafi não é exatamente madre Teresa de Calcutá e que, sem os bombardeios, iria fazer pó de Benghazi e de seus habitantes.
Pode-se lançar mil e um argumentos, alguns até ponderáveis, para ser contra a decisão do Conselho de Segurança. Mas quem usa qualquer um desses argumentos deveria dar-se ao trabalho de contar também o que aconteceria se a proposta fosse rejeitada.
Aconteceria mais um massacre. Simples assim.
Uma segunda ordem de argumentos pede sanções também ao Bahrein (ou à ditadura que seu gosto pessoal recomendar, leitor amigo). Dadas as condições que se deram na Líbia, nada contra.
Mas faltaria, em qualquer caso, a legitimidade que só uma decisão do Conselho de Segurança pode dar, de acordo com as regras internacionais. São as que temos.
A escolha continua sendo evitar ao menos um massacre ou tolerar todos. Não é tão difícil escolher.


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