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CIRANDA FINANCEIRA
A "ciranda financeira" designava,
nos anos 80, a engrenagem em que a
dívida pública era peça decisiva. Mas
hoje, mesmo com inflação baixa, a
ciranda continua. É o que revelou o
jornalista Celso Pinto, em sua coluna
de ontem nesta Folha: voltou a situação que existia sob a hiperinflação.
A engrenagem gira em torno da dívida pública. No período de inflação
alta e crônica, esses títulos indexados eram um lastro contra a perda de
valor das aplicações financeiras.
Com o tempo, a dívida pública não
apenas cresceu, mas passou a ser rolada com juros ainda maiores para
evitar que os investidores fugissem,
buscando outras aplicações financeiras ou moeda estrangeira.
Depois do real, esperava-se que a
dívida pública caísse e que os investidores optassem pela produção.
Mas o que se viu, mesmo com inflação baixa, foi uma enorme dificuldade do governo para reduzir o déficit
público. E como a âncora cambial
exigia juros altos (para atrair capitais
externos), a ciranda ressurgiu.
A emissão de títulos públicos passou a servir para financiar o déficit
público e para oferecer um abrigo ao
capital especulativo externo que
aportava. Novamente, juros altos geraram uma hipertrofia da ciranda financeira centrada na dívida pública.
Os bancos se tornaram intermediários cada vez mais concentrados no
giro dessa dívida pública. No final de
1998, os títulos geravam 43% da receita dos bancos estrangeiros enquanto os empréstimos produtivos
respondiam por apenas 17%.
É um processo irracional, pois, se
não ocorrer uma redução dos juros,
haverá um crescimento da dívida pública muito mais rápido que a capacidade de o governo arrecadar impostos, cortar gastos ou privatizar para
pagar aos que "investem" na ciranda.
Se se chegar a esse ponto, ficará claro o sentido da "ciranda". Como nas
festas infantis, não há lugar para todos e o jogo prossegue se o disco toca. Mas, se a música parar, ao contrário dessas festas, haverá uma corrida
em que muitos se machucarão.
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