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Os eternos trapalhões
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Com a quebra da invencibilidade do real e a ameaça concreta de uma inflação que pode ser galopante, a ordem vinda lá de cima é
desconversar quando o assunto é gatilho, indexação ou reposição de perdas
salariais.
Do presidente da República ao mais
reles chefe de serviço estatal, passando
pelos ministros e porta-vozes formais
ou informais, todos garantem que a
prioridade número um do governo é o
combate ao desemprego e não o poder
de compra da moeda.
É uma novidade. É também uma
agressão à memória e à dignidade do
país. Outro dia, aqui mesmo na Folha,
um ministro que vem do primeiro
mandato de FHC provou por a mais b
que a política cambial (que ele passou
quatro anos aprovando) estava errada e só agora foi consertada.
Falou e disse com a segurança de
quem nunca duvidou de si mesmo e de
suas convicções. Arrolou os mesmos
argumentos que a oposição brandiu
durante quatro anos e foi tachada de
burra e boba. Quem é o burro, quem é
o bobo agora? No fundo, cada ministro revela-se bom discípulo de FHC,
que ensinou a seus auxiliares a técnica de negar evidências e mudar de
opinião apedrejando a opinião da
véspera.
Outro ministro, com a cara devastada, piedosamente escandalizada pelo
drama social que vivemos, vociferou
contra a tentativa de maus brasileiros
de bagunçar o país com gatilhos salariais.
Todos os eleitos, todos os bacanas
deviam integrar a portentosa cruzada
contra o desemprego, criação nefasta
que agora está sendo atribuída à oposição, ao Lula, ao Brizola, ao Itamar,
aos pêlos pubianos da Lilian Ramos. E
também aos colunistas que se recusam
a bajular o poder.
Dizem que FHC e seus principais ministros são fluentes em inglês. Mas
acho que não entendiam muito bem o
que os executivos do FMI estavam falando. E continuam sem entender o
que agora falam. Apesar da boa vontade em cumprir as ordens, complicam tudo na hora de obedecer.
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