São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2000


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Xerife, piratas e fantasmas

VINICIUS TORRES FREIRE

São Paulo - Os fantasmas de Pitta e Maluf ainda esvoaçam entre os pavorosos viadutos paulistanos, e o caldeirão das bruxas da direita já engendra uma nova aparição. O abantesma da vez é Romeu Tuma. Na TV, o senador pefelista ameaça os cidadãos: "São Paulo precisa de um xerife!".
A estrelinha de xerife é o emblema do clã Tuma. Tuma pai foi, como se sabe, beleguim-mor da ditadura militar -da polícia política. Sobrenadou no caldo de cultura da Arena -o PDS, o PFL e o PPB de Maluf.
Terá ficado na memória midiática a imagem do xerife como pistoleiro legalizado, que mata pelo bem, guardião moral do vilarejo poeirento, autoridade rústica, John Wayne.
Causa tédio e engulhos ver Tuma ir à TV incitar emoções baixas e memórias primitivas a fim de levantar sua candidatura: pau em corrupto, pau em bandido e ordem, que tudo se resolve. O senador é herdeiro presuntivo dos bordões malufistas, embora não tenha o sinistro talento histriônico de Paulo Maluf.
Talvez não se candidate. O PFL paulista quer se arranjar com Covas. Candidato, seu slogan do brejo pode pegar. Tuma já bateu Erundina na eleição para o Senado de 94. De resto, tudo é possível num país em que Filinto Müller, senador e líder da Arena nos anos 60, antes meganha-mor da polícia e dos torturadores da ditadura Vargas, tornou-se nome de sala do Congresso Nacional. É uma ciranda de meter medo, ditadura Vargas, Müller, Arena, ditadura militar, Maluf, Tuma, o contubérnio do demo.
Desde que voltou a eleger prefeitos, o paulistano entregou 11 dos últimos 15 anos da cidade à desolação do janismo e do malufismo, ao populismo de direita. Decerto o sonho do desenvolvimentismo produziu monstros, uma cidade inchada de eleitores iletrados, cavalgada por uma elite corsária.
Mas, em todo o mundo, bucaneiros ricos acabam por se acalmar, criam museus, embelezam cidades etc. A vida urbana civiliza parte das massas. O que há com São Paulo? Outubro das eleições dirá se a cidade aprendeu algo. Ou se precisa de um xerife.


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