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Xerife, piratas e fantasmas
VINICIUS TORRES FREIRE
São Paulo - Os fantasmas de Pitta e
Maluf ainda esvoaçam entre os pavorosos viadutos paulistanos, e o caldeirão das bruxas da direita já engendra
uma nova aparição. O abantesma da
vez é Romeu Tuma. Na TV, o senador
pefelista ameaça os cidadãos: "São
Paulo precisa de um xerife!".
A estrelinha de xerife é o emblema
do clã Tuma. Tuma pai foi, como se
sabe, beleguim-mor da ditadura militar -da polícia política. Sobrenadou
no caldo de cultura da Arena -o
PDS, o PFL e o PPB de Maluf.
Terá ficado na memória midiática a
imagem do xerife como pistoleiro legalizado, que mata pelo bem, guardião moral do vilarejo poeirento, autoridade rústica, John Wayne.
Causa tédio e engulhos ver Tuma ir
à TV incitar emoções baixas e memórias primitivas a fim de levantar sua
candidatura: pau em corrupto, pau
em bandido e ordem, que tudo se resolve. O senador é herdeiro presuntivo
dos bordões malufistas, embora não
tenha o sinistro talento histriônico de
Paulo Maluf.
Talvez não se candidate. O PFL paulista quer se arranjar com Covas. Candidato, seu slogan do brejo pode pegar.
Tuma já bateu Erundina na eleição
para o Senado de 94. De resto, tudo é
possível num país em que Filinto Müller, senador e líder da Arena nos anos
60, antes meganha-mor da polícia e
dos torturadores da ditadura Vargas,
tornou-se nome de sala do Congresso
Nacional. É uma ciranda de meter
medo, ditadura Vargas, Müller, Arena, ditadura militar, Maluf, Tuma, o
contubérnio do demo.
Desde que voltou a eleger prefeitos, o
paulistano entregou 11 dos últimos 15
anos da cidade à desolação do janismo e do malufismo, ao populismo de
direita. Decerto o sonho do desenvolvimentismo produziu monstros, uma
cidade inchada de eleitores iletrados,
cavalgada por uma elite corsária.
Mas, em todo o mundo, bucaneiros
ricos acabam por se acalmar, criam
museus, embelezam cidades etc. A vida urbana civiliza parte das massas. O
que há com São Paulo? Outubro das
eleições dirá se a cidade aprendeu algo. Ou se precisa de um xerife.
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