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JOÃO SAYAD
Ideologia
A privatização deu certo?
Os investimentos não aumentaram, como se esperava. No setor elétrico, tivemos o apagão. Na América
Latina, a privatização do abastecimento de água só criou problemas. No
Brasil, a Sabesp estatal funciona como
uma sociedade anônima privada e vai
bem.
A Telebrás havia ligado o Brasil inteiro. Faltavam telefones porque: a) a
tecnologia era diferente da atual e b)
os recursos para investir eram obrigatoriamente aplicados em títulos públicos por causa do controle do déficit
público.
As estatais foram criadas para fazer
investimentos antecipados em setores
da economia que determinariam o
destino do resto da economia.
A Companhia Siderúrgica Nacional
é o melhor exemplo -fundada quando a siderurgia ainda era controlada
por grandes empresas americanas e o
Brasil ainda não tinha um mercado
industrial desenvolvido.
Também é o caso do setor elétrico. A
oferta de eletricidade antecedeu a demanda e era condição necessária para
a industrialização, que apenas se iniciava. Não podia ser deixada a investimentos privados.
Ninguém do setor privado quis investir na Embraer quando foi concebida, apesar da experiência que tínhamos na produção de aviões pequenos.
Aliás, o setor elétrico foi estatizado
pela falta de investimento das companhias privadas, assim como aconteceu
com o setor de telefonia. E ambas as
estatizações ocorreram no início do
governo militar.
Setores de ponta -por causa da tecnologia ou porque são instalados à
frente da demanda- acabam sendo
dominados por empresas verticalizadas ou por empresas estatais.
Nos Estados Unidos, o computador
aparece com a construção da primeira
bomba atômica. O setor aeroespacial é
estatal. A internet começa com os militares. Assim como a televisão internacional, cujo público inicial eram os
soldados americanos no exterior. Na
Europa, atrasada tecnologicamente
em relação aos Estados Unidos, o setor de aviões era um setor de ponta, vide o caso do Concorde.
Na América Latina, atrasada tecnologicamente em relação ao resto do
mundo, siderurgia e telefonia eram
setores de ponta quando se iniciaram
-e tinham que começar como investimentos estatais .
A empresa estatal funciona mal,
porque usa regras da administração
pública -com concorrências complexas até para comprar um aparelho
de ar condicionado. Está sujeita a
pressões políticas e, depois, ao
corporativismo.
Mas é a alternativa para realizar investimentos à frente da demanda e
com riscos que o setor privado não
aceitaria. Não é uma opção ideológica.
Quando o setor cresce e se consolida,
pode ser privatizado. Hoje, somos
grandes produtores de aço, e a siderurgia é um setor consolidado. Temos
um parque produtor de energia elétrica instalado, e as decisões privadas
agora são decisões na margem. Os setores estavam maduros para ser
privatizados.
O assunto é página virada. Mas, na
semana passada, comemoramos a auto-suficiência na produção de petróleo -depois de meio século de investimentos.
A Petrobras é uma empresa estatal
que funciona como uma sociedade
anônima multinacional. É estatal ou
privada? A resposta não faz a menor
diferença.
João Sayad escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
@ - jsayad@attglobal.net
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