|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Mudanças radicais
RIO DE JANEIRO - Muita gente
não sabe -nem precisa saber-,
mas, nos primeiros tempos da Revolução de 30, que acabou com a
República Velha e iniciou a nova, foi
publicado no "Diário Oficial"" um
decreto cuja transcendência revelou o ânimo revolucionário daquele
movimento.
Por ato do chefe do governo então provisório, que provisoriamente ficaria no poder por 15 anos, o nome da Escola Naval de Guerra foi
mudado para Escola de Guerra
Naval.
Depois de 30, tivemos outras tentativas de revolução, inclusive a de
1964, que mudou o nome do próprio país. Éramos então os Estados
Unidos do Brasil, e passamos a ser
República Federativa do Brasil. Ignoro se a mudança do nome alterou
alguma coisa no desempenho nacional, mas, para mim, pessoalmente, valeu uma crise profissional que
me obrigou a pedir demissão do jornal em que trabalhava.
Deu-se que os comandos militares anunciavam um novo ato institucional, que seria o segundo da série, até chegar ao quinto, em dezembro de 1968. Havia muita especulação sobre o seu conteúdo, e eu
tive a péssima idéia de imaginar como seria o novo instrumento legal
que nos regeria dali por diante. Em
seu artigo primeiro, declarei que
"Os Estados Unidos do Brasil, a partir desta data, será o Brasil dos Estados Unidos".
Bem ou mal, eu estava no clima
revolucionário que dominava a nação. Mudando nomes, muda-se alguma coisa. Lembro um esplêndido
bife que comi, certa vez, num restaurante suspeito de Paris, freqüentado por aquilo que o dono
chamava de "damas da noite". Teria
efeitos afrodisíacos e tinha o nome
de "Filé ao molho Pompadour".
Anos depois, fui convidado a cear
num convento perto de Perúgia. Ali
as freiras me serviram o mesmo bife, mas com o nome de "Filé ao molho Santa Terezinha".
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Balança, mas não cai Próximo Texto: Kenneth Maxwell: História contrafactual Índice
|