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CLÓVIS ROSSI
Somos todos delinquentes
SÃO PAULO - À primeira vista, faz todo o sentido a teoria de Catherine
Coles, da Universidade Harvard, de
defender a punição dos pequenos delitos como forma de evitar que os
grandes proliferem.
É esse, de resto, o embasamento teórico do programa "tolerância zero",
bem-sucedido em Nova York e em
outras partes dos EUA.
No Brasil, no entanto, aplicar "tolerância zero" aos pequenos delitos levaria tanta gente para a cadeia que
não haveria espaço para todos.
Por estas bandas, somos quase todos delinquentes, pelo menos pequenos delinquentes.
Usar o acostamento, por exemplo,
para furar a barreira do congestionamento nas estradas é um esporte de
difusão maciça no Brasil.
Mas aquele que o comete acha que
está sendo um grande esperto, não
um pequeno criminoso.
Outro exemplo é a montanha de
microfirmas com endereço em cidades do interior de São Paulo que cobram ISS (Imposto sobre Serviço) inferior ao da capital. Aposto que, entre
os profissionais liberais que abriram
firmas em endereço fictício, há muitos que são os primeiros a encher a
boca para criticar a corrupção.
Mas cometem o delito de dar um
endereço falso, com o que deixam de
pagar o imposto na cidade em que vivem, trabalham e, por extensão, consomem serviços públicos.
Desde quando somos quase todos
pequenos criminosos é uma questão
aberta. Haverá quem diga que foi
sempre assim, em um país colonizado por degredados e muitos delinquentes (grandes ou pequenos).
Outros preferem achar que a culpa
é dos sucessivos maus exemplos vindos de cima, que foram contaminando quase todos nós.
Qualquer esquema de tolerância
zero terá de começar com cada brasileiro deixando de tolerar seus próprios pequenos pecados (os grandes
pecadores são incomovíveis).
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