São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Serviço público e democracia
JOÃO BENEDICTO DE AZEVEDO MARQUES
Há um silêncio constrangedor no tocante ao desaparecimento do dinheiro que o servidor de São Paulo recolheu durante mais de 50 anos para o Ipesp (Instituto de Aposentadorias e Pensões do Servidor Público), cujo rombo atinge bilhões de reais; história que se repete na União, com os sonegadores do INSS e com o dinheiro desviado dos antigos institutos de aposentadoria por categorias, usado em obras públicas. Com os recursos dos institutos se construíram estradas, escolas, postos de saúde e a nova capital, e esse dinheiro desviado nunca voltou para a Previdência pública. Todos se esquecem dos sonegadores e dos bancos, que cobram juros imorais e campeões em todo o mundo, que, junto com os ladrões do dinheiro público e o crime organizado, são os grandes responsáveis pelo desastre econômico da miséria e do desemprego! E, fechando os olhos para a história e para a realidade, o governo embarca num caminho extremamente perigoso. Se a Previdência precisa ser reformada, se a conta não fecha, a correção precisa ser feita à custa dos responsáveis pelo descalabro, e não com a supressão de direitos inalienáveis dos funcionários. Se houve excessos e abusos por parte de uns poucos servidores, com salários milionários à custa de incorporações e dobradinhas escandalosas, a culpa cabe ao Legislativo, que permitiu esses desvios, e não à imensa e honrada classe dos servidores. A reforma é necessária, mas ninguém aceita o esbulho de seus direitos. Presidente Lula , Vossa Excelência, que é um trabalhador e um líder sindical, não pode renegar as suas origens e dar ouvidos àqueles que só sabem dizer "sim, senhor". Ouça a voz e siga o exemplo de Getúlio Vargas, revalorizando e dignificando o serviço público, base fundamental de um moderno e justo Estado de Direito. Por derradeiro, é importante que o Congresso cumpra sua função com independência e altivez, expurgando o projeto de vícios de constitucionalidade, como, por exemplo, a taxação de inativos, a redução de vencimentos, a violação do princípio de independência dos poderes da República, entre outros, não se esquecendo o deputado e o senador de que o mandato é do eleitor, que não perdoa os que traem a vontade do povo e se curvam às pressões inaceitáveis. Se o pior acontecer, só nos resta o recurso ao Judiciário e a arma do voto para punir aqueles que fraudaram a esperança do povo brasileiro. João Benedicto de Azevedo Marques, 64, procurador de Justiça aposentado, é conselheiro do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente). Foi presidente da Febem (1975-78), secretário da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (governo Mário Covas) e secretário nacional de Justiça (2003). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Iván Izquierdo: Quando os americanos eram bonzinhos Índice |
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