São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Lamentável ocorrência

SEMPRE MANTIVE minha fé na juventude brasileira. Apesar dos reconhecidos problemas da sua indisciplina no lar e na escola e do seu envolvimento com drogas e crimes, continuo achando que isso atinge uma minoria. De um modo geral, os rapazes e moças do Brasil são pessoas de bem que trabalham arduamente e que, em muitos casos, estudam à noite em escolas técnicas e faculdades pagas, depois de uma longa jornada de trabalho. Eles acreditam no valor do conhecimento.
É com essa juventude que o Brasil conta para construir o que falta, e reconstruir o que está abalado, a começar pelos padrões de moralidade pública.
Dentro desse quadro, entristece-me a conduta de minorias desavisadas ou usadas como massa de manobra para desconstruir uma das instituições mais estratégicas para o desenvolvimento do país -a Universidade de São Paulo.
É próprio da juventude manifestar seus descontentamentos e lutar para mudar o mundo. Sem essa chama, as nações não progridem. E, para tanto, o debate é importante.
Mas uma coisa é debater. Outra coisa é delinqüir. A invasão e ocupação da reitoria da USP foi uma demonstração de incivilidade e desconhecimento completo das regras da democracia.
Universidade é a casa do saber. É uma instituição que exige muito tempo para formar os talentos. É uma obra difícil de construir e que, portanto, não pode ser destruída pela irresponsabilidade de uns poucos. Sim, porque a maioria dos alunos quer estudar e crescer, demanda um clima de tranqüilidade e respeito, tanto que luta intensamente para entrar nas faculdades.
Nada justifica o vandalismo perpetrado contra uma das melhores universidades do país -e gratuita!-, os invasores quiseram convencer colegas de outras universidades a fazer o mesmo, como se os problemas brasileiros pudessem ser resolvidos pelo fechamento das escolas.
Mais grave é ver os invasores implorarem pelo perdão para desobstruir a reitoria da USP. Essa é a hora de a universidade ensinar o que são os deveres e a responsabilidade de cada parte. O que se espera é que os invasores sejam devidamente punidos, dentro das regras da universidade, chegando até à expulsão, se necessário for.
Não se pode querer construir uma democracia sem o necessário equilíbrio entre direitos e deveres.
Onde está o direito de invadir uma reitoria? Em nenhum lugar. Onde está o dever de punir os invasores?
Nos regulamentos da universidade. Chegou a hora de aplicá-los.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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