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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Lamentável ocorrência
SEMPRE MANTIVE minha fé
na juventude brasileira. Apesar dos reconhecidos problemas da sua indisciplina no lar e na
escola e do seu envolvimento com
drogas e crimes, continuo achando
que isso atinge uma minoria. De
um modo geral, os rapazes e moças
do Brasil são pessoas de bem que
trabalham arduamente e que, em
muitos casos, estudam à noite em
escolas técnicas e faculdades pagas, depois de uma longa jornada
de trabalho. Eles acreditam no valor do conhecimento.
É com essa juventude que o Brasil conta para construir o que falta,
e reconstruir o que está abalado, a
começar pelos padrões de moralidade pública.
Dentro desse quadro, entristece-me a conduta de minorias desavisadas ou usadas como massa de
manobra para desconstruir uma
das instituições mais estratégicas
para o desenvolvimento do país -a
Universidade de São Paulo.
É próprio da juventude manifestar seus descontentamentos e lutar
para mudar o mundo. Sem essa
chama, as nações não progridem.
E, para tanto, o debate é importante.
Mas uma coisa é debater. Outra
coisa é delinqüir. A invasão e ocupação da reitoria da USP foi uma
demonstração de incivilidade e
desconhecimento completo das regras da democracia.
Universidade é a casa do saber. É
uma instituição que exige muito
tempo para formar os talentos. É
uma obra difícil de construir e que,
portanto, não pode ser destruída
pela irresponsabilidade de uns
poucos. Sim, porque a maioria dos
alunos quer estudar e crescer, demanda um clima de tranqüilidade
e respeito, tanto que luta intensamente para entrar nas faculdades.
Nada justifica o vandalismo perpetrado contra uma das melhores
universidades do país -e gratuita!-, os invasores quiseram convencer colegas de outras universidades a fazer o mesmo, como se os
problemas brasileiros pudessem
ser resolvidos pelo fechamento das
escolas.
Mais grave é ver os invasores implorarem pelo perdão para desobstruir a reitoria da USP. Essa é a hora de a universidade ensinar o que
são os deveres e a responsabilidade
de cada parte. O que se espera é que
os invasores sejam devidamente
punidos, dentro das regras da universidade, chegando até à expulsão, se necessário for.
Não se pode querer construir
uma democracia sem o necessário
equilíbrio entre direitos e deveres.
Onde está o direito de invadir uma
reitoria? Em nenhum lugar. Onde
está o dever de punir os invasores?
Nos regulamentos da universidade. Chegou a hora de aplicá-los.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.
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