São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Uma realidade que pede resposta

CRISTINA MONTENEGRO, KIM BOLDUC e VINCENT DEFOURNY


O fato de o assunto ter ido à mais alta instância da ONU no quesito segurança internacional evidencia a gravidade da situação


ALGO REVELADOR sobre o momento que o mundo vive e os perigos ainda maiores que poderão advir das desordens ambientais em curso aconteceu no dia 17 de abril, em Nova York. Pela primeira vez em seus 60 anos de existência, o Conselho de Segurança das Nações Unidas discutiu como as mudanças climáticas poderão desencadear o aumento de conflitos e guerras.
O fato de o assunto ter ido à mais alta instância da ONU no quesito segurança internacional evidencia a gravidade da situação e o quão amplos e terríveis poderão ser os impactos da crescente degradação ambiental em todas as esferas da vida humana.
O aquecimento global é um assunto que requer atenção imediata e que diz respeito a todos, como atestou o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), da ONU.
Já não se trata apenas do comprometimento da qualidade de vida das futuras gerações ou da ocorrência de eventos extremos em regiões remotas. Estamos todos, países em desenvolvimento ou industrializados, sendo gradativamente afetados por mudanças nos padrões de chuva e de inundações, pela proliferação de doenças quase erradicadas e por ameaças à segurança alimentar.
A perda de espécies animais e vegetais e o potencial aumento de conflitos por recursos hídricos ou de crises humanitárias decorrentes de fluxos migratórios dos que um dia poderão ser chamados de "refugiados ambientais" são temas que se anunciam em nosso cotidiano caso se mantenha o atual e insustentável padrão de exploração dos recursos naturais e de contaminação do meio ambiente.
Avaliando esse quadro sob uma perspectiva econômica, as conclusões também são pouco promissoras.
Os impactos das mudanças climáticas na alteração física de zonas costeiras, de infra-estrutura de turismo e de transporte, para citar apenas algumas, deverão ter efeito devastador sobre o PIB mundial.
Por outro lado, estima-se que os custos de promover medidas de adaptação e mitigação de mudanças climáticas e gerar novas tecnologias e produtos mais eficientes em termos de utilização de matéria-prima e energia poderiam ser até cinco vezes menores do que os gastos com reconstrução.
O Brasil, que já vem observando mudanças ambientais inéditas, tais como a ocorrência de furacões na região Sul e seca na região amazônica, não ficará imune aos impactos ambientais, sociais e econômicos.
Diante dessa realidade global, o Sistema ONU vem mobilizando as capacidades e recursos de suas agências especializadas, 18 delas com escritórios no Brasil, para contribuir com os esforços nacionais e internacionais e fazer frente aos desafios que as mudanças climáticas nos impõem.
O desenvolvimento de avaliações ambientais integradas, o reforço de capacidades técnicas e institucionais, a transferência de tecnologias e a intensificação da cooperação Sul-Sul estão entre algumas das modalidades utilizadas pelo Sistema ONU para apoiar a formulação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável.
Dentre as estratégias globais que também são implementadas no Brasil, podemos destacar a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), que promove mudanças de atitudes por meio da educação e da aprendizagem, e uma emblemática parceria mundial para o plantio de 1 bilhão de árvores. Embora tenha sido lançada neste ano, essa campanha já superou suas metas.
Em 2007, o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), não por acaso, teve como slogan "O degelo - um tema quente?" e foi dedicado às regiões polares. Essa data marcou também os 15 anos da Rio 92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro e que se constituiu em um marco histórico para a incorporação dos princípios de sustentabilidade ao desenvolvimento.
O momento é oportuno, portanto, não só para alertar a população sobre as mudanças climáticas e as suas conseqüências para o mundo mas para reiterar a necessidade da adoção de padrões mais sustentáveis de produção e consumo. É também hora de repensar os modelos de desenvolvimento vigentes, de não permitir retrocessos e de retomar, com vigor renovado, as responsabilidades que temos, como indivíduos e comunidade planetária, de construir uma sociedade próspera, saudável, eqüitativa e sustentável.

CRISTINA MONTENEGRO é coordenadora do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) no Brasil.
KIM BOLDUC é coordenadora residente do Sistema das Nações Unidas no Brasil.
VINCENT DEFOURNY é representante da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) no Brasil.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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