São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2008

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Editoriais

PSDB dividido

Não existe uma diferença política substantiva entre serristas e alckmistas, mas só uma colisão entre projetos individuais

A INDECISÃO é um estigma que os adversários do PSDB conseguiram fixar no partido desde que este foi criado, duas décadas atrás, apesar dos reiterados protestos dos dirigentes tucanos contra tal qualificação. Contudo, o resultado da convenção de domingo evidenciou que essa marca convém a uma legenda que, tendo à sua disposição duas alternativas fortes para disputar a Prefeitura de São Paulo -o ex-governador Geraldo Alckmin e a continuidade da gestão Gilberto Kassab (DEM), apoiada pelo governador José Serra-, dificilmente chegará unida ao pleito.
Formalmente, o tucanato cerrou fileiras em torno do ex-governador; na realidade, porém, uma ala importante do partido deverá apoiar Kassab.
Inexistiam razões programáticas que justificassem duas candidaturas situacionistas na maior metrópole do país. Afinal, que divergências opõem o PSDB alckmista ao PSDB serrista? Alguma restrição ideológica em relação a uma coligação com um partido conservador como o DEM?
Pois foi essa mesma aliança que levou Fernando Henrique Cardoso à Presidência em 1994, Geraldo Alckmin ao governo estadual em 2002 e José Serra à prefeitura paulistana em 2004. Não se trata, portanto, de uma oposição política substantiva entre duas correntes do partido, mas sim de uma colisão entre projetos individuais.
Essa dissensão possui raízes nas origens do tucanato. Diferentemente de outras agremiações, criadas à sombra de um líder indiscutível -como Lula no PT e Leonel Brizola no PDT-, o PSDB consistiu, desde o início, em uma coalizão de parlamentares na qual nenhum deles predominava, o que permitia ao partido tomar suas decisões por consenso. Esse perfil -que tornava a legenda semelhante a um clube- não atrapalhou os tucanos quando Mário Covas ou Fernando Henrique Cardoso despontaram como candidatos naturais ao Planalto, mas se tornou crítico quando mais de um deles passou a reivindicar um lugar na chapa presidencial.
Esse problema já se manifestou na sucessão de FHC -quando Tasso Jereissati desistiu de disputar a indicação do partido com Serra- e reapareceu em 2006 -quando foi a vez de Serra recuar diante de Alckmin. Nos dois casos, a legenda escamoteou suas divisões em vez de resolvê-las, democraticamente, por meio de uma prévia ou de uma convenção. Sempre preferiu ostentar um consenso que já não possui e no qual não crêem nem sequer os tucanos mais ingênuos, hoje atarantados em meio a tantas rivalidades.
Tergiversando entre Alckmin e Serra, o PSDB parece querer deixar ao eleitor a tarefa de escolher seu tucano predileto. Corre o risco de nenhum ser escolhido.


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