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CLÓVIS ROSSI
Suave veneno
SÃO PAULO - Até outubro, a popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva é uma bênção para Dilma Rousseff. É, a rigor, o seu único ativo
eleitoral. Tanto que foi suficiente
para torná-la a candidata favorita, a
julgar pela pesquisa Ibope divulgada ontem.
Mas, a partir de novembro e, especialmente, a partir de 1º de janeiro, se eleita, a bênção se transformará em cálice envenenado. Dilma
terá que competir não contra adversários, mas contra o seu próprio padrinho. Terá que repetir os índices
de popularidade de Lula, sob pena
de sofrer um nível de desgaste
maior do que aconteceria com governantes sem a sua gênese e sem
tão imensa sombra.
Se conseguir chegar perto, tudo
bem. Ninguém razoável é capaz de
supor que Dilma possa repetir os índices de Lula, ainda que faça uma
excelente gestão. Lula tem uma empatia com o público que responde
por uma parte importante de sua
popularidade. Dilma não tem e não
terá. Faz parte do DNA dele, mas
não aparece no dela.
Se o índice de aprovação começar a ficar bem abaixo do de Lula, já
dá até para ouvir o pessoal do PT do
Maranhão resmungando algo assim: "Foi para isso que tivemos que
engolir o Sarney?". A turma do PT
mineiro dirá mais ou menos o mesmo, em relação à aliança (imposta)
com o PMDB.
É óbvio que com José Serra ocorrerá algo parecido. Mas com uma
diferença essencial: não haverá inversão de bênção para desafio. Como candidato, Serra já concorre
contra a popularidade de Lula, ao
contrário de Dilma. Como presidente, continuará concorrendo.
No caso de Marina Silva, suponho que será diferente. Sua vitória
criará uma situação política tão diferente do que vem sendo usual há
16 anos que o paradigma em tese
deixará de ser Lula.
Passará a ser a adoção (ou não)
do novo modelo de desenvolvimento que é o cerne de sua pregação.
crossi@uol.com.br
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