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ANTONIO DELFIM NETTO
Política fiscal e juros
Na sua palestra aos investidores
feita em 11 de julho em Nova
York, o presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, procurou tranquilizá-los com relação à dinâmica da dívida
interna, que está em torno de 56% do
PIB. Seu argumento mais importante
foi que o esforço adicional de superávit primário, que passou de 3,5% para
3,75% do PIB, será mantido (com
apoio de todos os partidos) em 2003,
como dispõe a Lei de Diretrizes Orçamentárias aprovada no Congresso.
Atribuindo a volatilidade cambial à
descrença do mercado de que o país já
tenha maturidade política suficiente
para distinguir as políticas econômicas virtuosas das aventuras voluntarísticas, Armínio manifestou sua confiança em que, com qualquer candidato eleito, a orientação da política econômica seja basicamente a mesma:
manutenção do sistema de metas inflacionárias, implacável perseguição
do superávit primário e taxa de câmbio flutuante. Tão logo, portanto, sejam superados os naturais incidentes
dos processos eleitorais, o Brasil voltará a um círculo virtuoso como o vivido
a partir de 1999, até que a "barbeiragem" do racionamento de energia se
manifestasse. Afinal, com uma redução do juro real e uma aceleração do
crescimento econômico (ambos antecipados por ele), o esforço fiscal seria
suficiente para estabilizar a relação dívida/PIB, eliminando uma das mais
graves preocupações dos credores.
O fato interessante é que, depois de
quatro meses, a taxa Selic foi reduzida
de 18,5% para 18% -em 17 de julho,
uma semana após sua palestra. Comparando a Selic de dezembro de 2000
com as taxas de juros de curto prazo
de 25 países listados pelo JP Morgan,
vemos que o Brasil é um dos três que
não a reduziram no período. Relativamente ao Chile e ao México, temos:
O resultado é chocante! Quando
lembramos que as melhores expectativas de inflação para 2002 são de 6%
para o Brasil, 2,4% para o Chile e 4,6%
para o México, temos estas taxas de juros reais, grosseiramente estimadas:
Juntamos ao quadro a informação
sobre o crescimento real estimado dos
países. Ele revela nossa tragédia e a
preocupação dos credores, pois nossos números exigem um superávit
primário de 4,5% a 5% do PIB, e não
de 3,75%. Com a terrível herança deixada pela política econômica do primeiro mandato, como convencer os
investidores de que os efeitos da "volatilidade" criada pelo jingle do PSDB
("não quero ser Argentina") serão
passageiros? É preciso, entretanto, insistir: o Banco Central não é culpado.
Sem uma sólida situação fiscal percebida e antecipada pelos credores, nem
um banco central "independente" pode fixar com "independência" uma taxa de juro real civilizada...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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