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Reta final
Perícia da PF, que confirma incongruências nas contas de Renan Calheiros, coloca o caso no rumo de um desfecho
NÃO SE PODE acusar o
presidente do Senado,
Renan Calheiros
(PMDB-AL), de falta
de tenacidade. Ele se agarra ao
cargo com rara contumácia.
As desditas do senador tiveram
início no final de maio, quando a
revista "Veja" afirmou que ele teve despesas pessoais pagas pelo
lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. O dinheiro bancaria pensão de Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha.
De lá para cá, a situação do presidente do Senado deteriorou-se.
Recorreu à pecuária para justificar a origem do dinheiro -Gontijo seria só um amigo que repassava o dinheiro do próprio Renan Calheiros à mãe de sua filha.
Os primeiros problemas a respeito dessa versão surgiram
quando se verificou que, para
chegar a seu patrimônio declarado, Renan teria de conseguir
com seu rebanho alagoano uma
lucratividade bem superior à registrada em regiões mais tradicionais, como São Paulo e Rio
Grande do Sul. Para piorar as
coisas para o senador, soube-se
logo a seguir que as notas apresentadas por Renan para sustentar suas afirmações incluíam recibos com irregularidades e emitidos por empresas de fachada.
Elementos já surrealistas surgiram quando um dos frigoríficos para os quais o senador teria
vendido gado foi assaltado na
véspera do dia em que entregaria
documentos para serem periciados pela Polícia Federal. Papéis
que interessavam à apuração foram levados pelos bandidos.
Em paralelo às batalhas em
torno da contabilidade rural,
surgiram outras denúncias, também negadas pelo senador. Teria
favorecido a cervejaria Schincariol, que comprou uma fábrica de
Olavo Calheiros, irmão de Renan. Teria adquirido, com recurso a testas-de-ferro, uma rádio e
um jornal em Alagoas, no valor
de R$ 2,5 milhões. A história foi
confirmada pelo usineiro João
Lyra, atual desafeto do presidente do Senado, que seria sócio do
senador na empreitada.
Finalmente, veio a público
nesta semana o resultado da perícia da PF. A polícia diz que os
documentos apresentados pelo
senador não são suficientes para
sustentar a sua história. Afirma
que a papelada apresenta lacunas graves, como a ausência de
registro de despesas de custeio
na atividade pecuária. O pagamento de mão-de-obra, por
exemplo, só aparece na movimentação de 2006 e não na dos
anos anteriores.
Outros problemas incluem a
multiplicação do gado. Em 2004
surgiram cem reses na criação,
sem que haja registro de compra
ou de nascimentos. Como os peritos apontaram um déficit nas
contas de 2005, Renan Calheiros
aparece agora com um empréstimo de R$ 178 mil tomado à empresa Costa Dourada Veículos.
É possível que todas as disparidades não passem de uma infeliz
coincidência de azares e erros
menores. De todo modo, o mais
importante é que o processo parece, enfim, caminhar para um
desfecho. O Conselho de Ética e
depois, provavelmente, o plenário do Senado estão próximos de
dar uma satisfação à sociedade
sobre essas graves suspeitas.
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