São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Reta final

Perícia da PF, que confirma incongruências nas contas de Renan Calheiros, coloca o caso no rumo de um desfecho

NÃO SE PODE acusar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de falta de tenacidade. Ele se agarra ao cargo com rara contumácia.
As desditas do senador tiveram início no final de maio, quando a revista "Veja" afirmou que ele teve despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. O dinheiro bancaria pensão de Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha.
De lá para cá, a situação do presidente do Senado deteriorou-se. Recorreu à pecuária para justificar a origem do dinheiro -Gontijo seria só um amigo que repassava o dinheiro do próprio Renan Calheiros à mãe de sua filha.
Os primeiros problemas a respeito dessa versão surgiram quando se verificou que, para chegar a seu patrimônio declarado, Renan teria de conseguir com seu rebanho alagoano uma lucratividade bem superior à registrada em regiões mais tradicionais, como São Paulo e Rio Grande do Sul. Para piorar as coisas para o senador, soube-se logo a seguir que as notas apresentadas por Renan para sustentar suas afirmações incluíam recibos com irregularidades e emitidos por empresas de fachada.
Elementos já surrealistas surgiram quando um dos frigoríficos para os quais o senador teria vendido gado foi assaltado na véspera do dia em que entregaria documentos para serem periciados pela Polícia Federal. Papéis que interessavam à apuração foram levados pelos bandidos.
Em paralelo às batalhas em torno da contabilidade rural, surgiram outras denúncias, também negadas pelo senador. Teria favorecido a cervejaria Schincariol, que comprou uma fábrica de Olavo Calheiros, irmão de Renan. Teria adquirido, com recurso a testas-de-ferro, uma rádio e um jornal em Alagoas, no valor de R$ 2,5 milhões. A história foi confirmada pelo usineiro João Lyra, atual desafeto do presidente do Senado, que seria sócio do senador na empreitada.
Finalmente, veio a público nesta semana o resultado da perícia da PF. A polícia diz que os documentos apresentados pelo senador não são suficientes para sustentar a sua história. Afirma que a papelada apresenta lacunas graves, como a ausência de registro de despesas de custeio na atividade pecuária. O pagamento de mão-de-obra, por exemplo, só aparece na movimentação de 2006 e não na dos anos anteriores.
Outros problemas incluem a multiplicação do gado. Em 2004 surgiram cem reses na criação, sem que haja registro de compra ou de nascimentos. Como os peritos apontaram um déficit nas contas de 2005, Renan Calheiros aparece agora com um empréstimo de R$ 178 mil tomado à empresa Costa Dourada Veículos.
É possível que todas as disparidades não passem de uma infeliz coincidência de azares e erros menores. De todo modo, o mais importante é que o processo parece, enfim, caminhar para um desfecho. O Conselho de Ética e depois, provavelmente, o plenário do Senado estão próximos de dar uma satisfação à sociedade sobre essas graves suspeitas.

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