São Paulo, Terça-feira, 24 de Agosto de 1999
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O DÓLAR QUE FALTA

A tormenta no câmbio da semana passada foi enfrentada pelo governo de modo convencional. Aumentou a oferta de títulos públicos corrigidos pelo dólar e flexibilizou as regras para captação de recursos no exterior.
Mas continua relevante saber até onde vai a eficácia desse sucesso de curto prazo. Estudos sobre o setor externo, divulgados pelo Banco Bilbao Vizcaya, recomendam cautela.
Ressaltam os custos de empréstimos externos, investimentos de multinacionais e aplicações financeiras de estrangeiros. Aumentarão as remessas de juros, lucros, dividendos e amortizações. O diagnóstico é ainda mais preocupante quando se examina o destino de boa parte desses investimentos: aquisição de empresas, privatizações, instalação de fábricas para atender ao mercado interno.
São operações com baixa capacidade de gerar exportações. Mas é só aumentando a receita com exportações que o país pode administrar sua dívida e remeter dólares sem mais endividamento. Se o ciclo de privatizações, aquisições, fusões e participações de estrangeiros não continuar tão vigoroso, as pressões por dólares serão mais fortes que a oferta. A taxa de câmbio refletirá o desequilíbrio. O real tenderia então a manter sua desvalorização, ainda que por vezes o BC evitasse saltos bruscos.
Talvez não fosse tão mau ver o câmbio flutuar dentro de certos limites, com perda gradual de valor do real. Talvez isso até permitisse maior crescimento. O outro lado da conta é uma pressão inflacionária maior, por causa da própria desvalorização.
O que nem o país nem os investidores e credores internacionais aceitariam é uma recaída no regime da inflação crônica. Para evitá-la, torna-se ainda mais urgente avançar na reforma tributária, aumentar a competitividade brasileira e implementar, antes que seja tarde, política industrial ampla e consistente.


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