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O DÓLAR QUE FALTA
A tormenta no câmbio da semana
passada foi enfrentada pelo governo
de modo convencional. Aumentou a
oferta de títulos públicos corrigidos
pelo dólar e flexibilizou as regras para captação de recursos no exterior.
Mas continua relevante saber até
onde vai a eficácia desse sucesso de
curto prazo. Estudos sobre o setor externo, divulgados pelo Banco Bilbao
Vizcaya, recomendam cautela.
Ressaltam os custos de empréstimos externos, investimentos de multinacionais e aplicações financeiras
de estrangeiros. Aumentarão as remessas de juros, lucros, dividendos e
amortizações. O diagnóstico é ainda
mais preocupante quando se examina o destino de boa parte desses investimentos: aquisição de empresas,
privatizações, instalação de fábricas
para atender ao mercado interno.
São operações com baixa capacidade de gerar exportações. Mas é só aumentando a receita com exportações
que o país pode administrar sua dívida e remeter dólares sem mais endividamento. Se o ciclo de privatizações,
aquisições, fusões e participações de
estrangeiros não continuar tão vigoroso, as pressões por dólares serão
mais fortes que a oferta. A taxa de
câmbio refletirá o desequilíbrio. O
real tenderia então a manter sua desvalorização, ainda que por vezes o BC
evitasse saltos bruscos.
Talvez não fosse tão mau ver o câmbio flutuar dentro de certos limites,
com perda gradual de valor do real.
Talvez isso até permitisse maior crescimento. O outro lado da conta é
uma pressão inflacionária maior, por
causa da própria desvalorização.
O que nem o país nem os investidores e credores internacionais aceitariam é uma recaída no regime da inflação crônica. Para evitá-la, torna-se
ainda mais urgente avançar na reforma tributária, aumentar a competitividade brasileira e implementar, antes que seja tarde, política industrial
ampla e consistente.
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