São Paulo, Terça-feira, 24 de Agosto de 1999
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É fantástico

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O que a impopularidade é capaz de fazer, hein? O presidente da República dispôs-se até a servir de quadro para o "Fantástico" da Rede Globo de Televisão, entre um Mr. M e a habitual reportagem sobre anomalias e milagres da ciência/tecnologia.
Fernando Henrique Cardoso verteu as obviedades de praxe mesmo ao ser entrevistado por dois profissionais competentes (o que não significa concordância com as opiniões que expressam quando exercem a função de colunistas. Ao contrário do que defende o presidente, discordar das opiniões de alguém não significa, automaticamente, negar-lhe competência).
Além de obviedades, o presidente foi omisso no fundamental, ou seja, no seguinte trecho: "Fomos obrigados a fazer tudo o que é ruim, que eu não queria". Obrigados por quem, cara pálida? Por algum duende? Pela oposição, que o presidente diz, com certa razão, aliás, que está sem rumo?
Ou sem rumo está o governo que admite ter feito o que não queria fazer e ainda lança a culpa em sujeito oculto?
Pior que as banalidades e as frases truncadas foi a coincidência: o mesmo "Fantástico" que tinha FHC como um de seus quadros exibia reportagens sobre Jânio Quadros e Getúlio Vargas, dois dos presidentes que não terminaram os respectivos mandatos, o primeiro, pela renúncia, e o outro, pelo suicídio.
Fantástico o presidente dizer que o protesto da oposição mina a democracia, não a ele. Quando era FHC quem protestava (contra Sarney, contra Collor), não minava?
Fantástico igualmente o epíteto de "golpista" que se aplica à oposição, em especial a Luiz Inácio Lula da Silva, por ter defendido o presidente venezuelano Hugo Chávez. Lembra os piores momentos do golpismo, aí, sim, sem aspas, contra Salvador Allende. Como Allende, até agora Chávez só está cumprindo promessas de campanha, que lhe deram cômoda vitória eleitoral. Não é assim que funciona (ou deveria funcionar) a democracia?


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