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CLÓVIS ROSSI
Luzes, Câmara, ação
SÃO PAULO - Talvez a solução para o problema da política brasileira (sim,
a política brasileira tornou-se um
problema ou sempre o foi) seja reproduzir o que aconteceu com aquele jato da JetBlue, cujo quase desastre foi
transmitido ao vivo para os passageiros quase vítimas.
Seria apenas uma questão de inverter a direção para onde olham as câmeras ou de fazer um "celebrity
show" às avessas. Em vez de o público
ficar em casa, olhando aquele punhado de famosos-quem-mesmo?, os
deputados e senadores é que ficariam
trancados no Congresso durante um
certo tempo, enquanto os eleitores seriam focalizados fazendo seus comentários a respeito deles e da política em geral.
Mas não os comentários do tipo "o
povo fala" a que as tevês recorrem
com freqüência. Seriam as conversas
do cotidiano, no botequim, nos locais
de trabalho, nos intervalos dos telejornais, na mesa do café com a família, no almoço de domingo, no churrasco dos amigos, no vestiário da "pelada" e assim por diante. Ou seja,
"reality" comentários.
Imagino que os nobres parlamentares sentiriam o mesmo pânico que
deve ter invadido os passageiros do
jato ao ouvirem especialistas discorrerem sobre as chances de sobrevivência das quase vítimas (engraçado
como a TV sempre tem um especialista à mão para tudo, desde a influência da galinha na arte medieval
até quase queda de jatos).
O mesmo pânico talvez seja pouco.
O que se fala aqui em baixo sobre os
políticos em geral, quase sem exceções, é impublicável.
Mas eles parecem não se dar conta
ou não ligar a mínima. Tanto que estão, de novo, brincando de eleger o
presidente da Câmara sem o menor
respeito pela necessidade de restaurar algo do prestígio da instituição.
Talvez, então, um show em que sejam não os personagens, como agora,
mas as vítimas do falatório, lhes devolvesse o fio terra há muito perdido.
Ou talvez dissessem apenas, sobre o
falatório: "Faz parte".
@ - crossi@uol.com.br
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