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PLÍNIO FRAGA
A luz que vem do subterrâneo
RIO DE JANEIRO - Como o escândalo dos sanguessugas comprovou, a família Vedoin não é confiável nem sequer para comprar um
carro ou uma ambulância, mas o
núcleo de (des)inteligência do PT
resolveu negociar com ela um dossiê inteiro de 2.000 páginas.
Definir essa opção só como insana, burra ou desastrada é de uma
certa maneira folclorizar a gangue.
Não há quem não tenha simpatia
por um exército de Brancaleone,
mas no caso não é do que se trata.
Pouco dos subterrâneos de uma
campanha eleitoral vem à tona. A
Folha mostrou nesta semana que
saiu de um grupo petista o dossiê
usado na imprensa para atacar o
candidato a vice de Ciro Gomes em
2002. Nas campanhas de 1994, 1998
e 2002, as candidaturas de Fernando Henrique Cardoso e José Serra
também contrataram jornalistas
com experiência para investigar os
adversários.
Pela tradição dos bastidores, obviamente os candidatos negam
qualquer vinculação com esse tipo
de "formuladores de agenda negativa", como os marqueteiros chamam
a função dos contratados. Há também os "formuladores de agenda
positiva", quando um candidato
contrata um jornalista para participar de entrevistas nas quais fará
perguntas que permitam a abordagem dos temas que os marqueteiros
acham que devem ser mais bem
aproveitados pelo político. Esse
contratado obviamente não se
apresenta como tal. Alckmin já
usou os serviços de ao menos um.
Não é ilegítimo expor fraquezas e
desvios de adversários numa campanha. O problema é sempre o dinheiro: quem paga e quanto paga.
Como o candidato não quer se
envolver, o dinheiro usado por essa
turma vem do caixa dois. Ninguém
quer deixar rastro. Como envolve
riscos, os contratados também cobram caro. O subterrâneo da política é sombrio e cheira mal.
A luz que virá de lá será sempre
aquela típica dos interrogatórios
policiais.
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