São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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PLÍNIO FRAGA

A luz que vem do subterrâneo

RIO DE JANEIRO - Como o escândalo dos sanguessugas comprovou, a família Vedoin não é confiável nem sequer para comprar um carro ou uma ambulância, mas o núcleo de (des)inteligência do PT resolveu negociar com ela um dossiê inteiro de 2.000 páginas.
Definir essa opção só como insana, burra ou desastrada é de uma certa maneira folclorizar a gangue. Não há quem não tenha simpatia por um exército de Brancaleone, mas no caso não é do que se trata.
Pouco dos subterrâneos de uma campanha eleitoral vem à tona. A Folha mostrou nesta semana que saiu de um grupo petista o dossiê usado na imprensa para atacar o candidato a vice de Ciro Gomes em 2002. Nas campanhas de 1994, 1998 e 2002, as candidaturas de Fernando Henrique Cardoso e José Serra também contrataram jornalistas com experiência para investigar os adversários.
Pela tradição dos bastidores, obviamente os candidatos negam qualquer vinculação com esse tipo de "formuladores de agenda negativa", como os marqueteiros chamam a função dos contratados. Há também os "formuladores de agenda positiva", quando um candidato contrata um jornalista para participar de entrevistas nas quais fará perguntas que permitam a abordagem dos temas que os marqueteiros acham que devem ser mais bem aproveitados pelo político. Esse contratado obviamente não se apresenta como tal. Alckmin já usou os serviços de ao menos um.
Não é ilegítimo expor fraquezas e desvios de adversários numa campanha. O problema é sempre o dinheiro: quem paga e quanto paga.
Como o candidato não quer se envolver, o dinheiro usado por essa turma vem do caixa dois. Ninguém quer deixar rastro. Como envolve riscos, os contratados também cobram caro. O subterrâneo da política é sombrio e cheira mal.
A luz que virá de lá será sempre aquela típica dos interrogatórios policiais.


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