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ELIANE CANTANHÊDE
Passo em falso
BRASÍLIA - Quis o destino (essa é
boa, hein?) que a derrota do candidato apoiado pelo Brasil à direção-geral da Unesco saísse na imprensa
internacional justamente no dia em
que Lula subia à tribuna para abrir a
Assembleia Geral da ONU deste
ano, em Nova York.
E exatamente quando o Brasil se
debate na armadilha de abrigar o
presidente deposto de Honduras,
Manuel Zelaya, na embaixada em
Tegucigalpa. Ele não tem para onde
ir, e o Brasil não tem para onde correr. Impasse puro.
Ok que o discurso de Lula na
ONU foi sóbrio e sólido. Ok que não
havia outra alternativa senão abrir
as portas para Zelaya. Mas Lula e o
Brasil poderiam muito bem ter passado sem essa, de mais uma derrota
para organismos internacionais. O
espaço é curto para relacionar as
anteriores.
O pior é que o governo jogou para
o alto dois bons candidatos "made
in Brasil", o atual vice-diretor da
entidade, Márcio Barbosa, que chegou a colecionar uma penca de
apoios internacionais, e o ex-ministro e atual senador Cristóvam
Buarque, do PDT. E, em vez de ganhar ou perder com um dos seus,
perdeu apoiando um egípcio com a
má fama de racista, antissemita.
Esse apoio foi uma decisão com
ares oportunistas, mas que teve um
efeito bumerangue e veio bater na
testa do governo brasileiro. O Planalto empurra a culpa para o Itamaraty, o Itamaraty devolve para o
Planalto, mas o fato -sempre ele, o
fato- é que o governo decidiu dividir aqui, internamente, para tentar
somar lá, externamente, com o
mundo árabe. Conclusão: irritou
aqui, perdeu lá. A conta não fechou.
Ganhou a búlgara Irina Bokova,
de origem pessoal e familiar no antigo comunismo, e por mais que o
Brasil desdenhe, dizendo que o cargo nem é lá essas coisas, ele é, sim. A
Unesco é o braço da ONU para educação, ciência, cultura, tecnologia,
todas essas áreas que remetem ao
futuro e que deixam o Brasil tão cara a cara com o atraso.
elianec@uol.com.br
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