São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Por que quero ser governador

JOSÉ AIRTON

"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."
Cecília Meireles

Entre o Ceará da mídia -16 anos tucano- e o Ceará real há um mundo de diferenças. Basta percorrer os indicadores sociais do Nordeste medidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, em 2001, e confrontá-los com os outros oito Estados da região para que isso fique claro.
A modernidade alardeada pelo bico largo dos tucanos não chegou para todos os cearenses. Entre os nove Estados nordestinos, o Ceará ocupa a sétima posição no ranking das residências com fogão. Quanto às residências com máquina de lavar roupa, sobe para o sexto lugar, com índice bem abaixo do Rio Grande do Norte, primeiro colocado. Em se tratando de casas com freezer, amarga o último lugar do Nordeste.
Mas falar em eletrodomésticos no Ceará é luxo. Se o indicativo é de residências rurais com rede coletora de esgotos, o Estado volta ao último lugar e, quando se analisa o índice de residências rurais com algum sistema de coleta de lixo, o Ceará tem só 3% de atendimento, amargando o penúltimo lugar. É apenas o sexto dos nove Estados nordestinos em residências rurais com energia elétrica. Dizer "alô" em residências rurais não é para todo mundo: o Ceará é o antepenúltimo Estado do Nordeste neste quesito. Apenas em residências com filtro, o Ceará assume um "honroso" quarto lugar.
O que faz o meu Ceará ter 4,1 milhões de indigentes, mais da metade da população, sendo o segundo pior índice do país, de acordo com o Centro de Estudos Sociais da Fundação Getúlio Vargas? Por que, na área educacional, o "paraíso" Ceará possui o quarto pior índice do país, com uma média educacional de 4,3 anos de estudo, conforme a PNAD/IBGE em 1999? E também o quarto pior índice do país (27,8%) na taxa de analfabetismo entre os maiores de 15 anos?
Como se vê, há uma grande farsa do Ceará tucano. Os avanços conseguidos em 16 anos são mínimos, notadamente na área social. O Ceará cresceu e se desenvolveu, mas para poucos. O PIB cearense cresceu, de 1995 a 1999, exatamente 9,7%. Nesse mesmo período, os 20% mais pobres tiveram uma redução da participação na renda total de 3,5%.
O censo do IBGE de 2000 mostra que há no Estado a maior desigualdade de renda do país. Segundo o instituto, 40,8% das famílias tinham, em 1999, uma renda familiar per capita de até meio salário mínimo. Os 20% mais pobres do Estado detinham, em 1999, apenas 3,03% da renda total do Estado. Por outro lado, o percentual que, na mesma época, os 20% mais ricos possuíam da renda total do Estado era 25,2% maior do que a renda dos 20% mais pobres, sendo este o maior índice do país.


O tucanato concentrou exacerbadamente o poder. É um governo de poucos, que exclui o diálogo


Junto com a concentração da riqueza, o tucanato concentrou exacerbadamente o poder. É um governo de poucos, que exclui o diálogo, que é arrogante com os movimentos sociais e não respeita as entidades da sociedade civil, tornando-se a maior oligarquia da história cearense. São vários os episódios de truculência explícita no tratamento com os servidores públicos, movimento sindical e trabalhadores rurais.
É para mudar essa realidade, ajudar o Ceará a se livrar da maior de suas opressões, resgatar a dignidade do povo cearense que quero ser governador. Para que o povo cearense possa confiar de novo na sua força e na força de uma vida nova e diferente. Para que a sociedade civil sinta novamente a liberdade de expressar suas opiniões e questionar as ações governamentais sem a sombra do autoritarismo de um posição única, que insiste em se estabelecer como verdade absoluta. A liberdade de poder tratar a estrutura governamental como algo seu, e não como quem pede favor aos donos do poder quando se quer simplesmente expressar suas reivindicações.
Para mudar essa realidade e assumir concretamente os problemas de um Ceará real é que quero ser governador.
Para que essa realidade mude, é necessária a ampla participação de todos os segmentos da população, inclusive na elaboração do orçamento; a descentralização administrativa para atender às diferenças regionais; a priorização de políticas públicas que apontem para o social; e a implantação de uma política de desenvolvimento que gere trabalho e renda de forma a distribuir riqueza.
Essas são as bases de nossa filosofia de mudança. Para isso, quero ser governador do Ceará. Um Ceará diferente pode ser construído. Como diria Fernando Pessoa, "eu desejo impossivelmente o possível".


José Airton Félix Cirilo da Silva, 45, mestre em direito público pela Universidade Federal de Pernambuco, é o candidato do PT ao governo do Estado do Ceará. Foi prefeito de Icapuí (1986-89 e 1993-96).




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