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RISCO NUCLEAR
É positivo o anúncio de que o
Irã concordou em suspender
seu programa de enriquecimento de
urânio e em assinar um protocolo
adicional ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TPN), o que permitiria à AIEA (Agência Internacional de
Energia Atômica), ligada à ONU,
inspeções mais frequentes e aprofundadas a suas instalações.
O saudável ceticismo, contudo, recomenda alguma cautela. O poder
no Irã está dividido entre o governo
do reformista presidente Mohamad
Khatami e os clérigos conservadores
liderados pelo aiatolá Ali Khamenei.
Sob muitos aspectos, são os religiosos que detêm o real poder no país. E
são eles, e não o governo, que acalentam sonhos de tornar o Irã em breve
uma potência nuclear.
Assim, antes de considerar o caso
iraniano um episódio resolvido, é necessário esperar para ver como as autoridades da AIEA serão recebidas no
país quando de suas inspeções.
O mundo deveria celebrar como
uma vitória da razão sobre a força
bruta cada país que renuncia espontaneamente a produzir e a estocar armamento nuclear. Essa constatação,
contudo, não deve impedir que se
aponte para a verdadeira hipocrisia
que marca a política antinuclear do
mundo. Para começar, por que apenas EUA, Rússia, Reino Unido, França e China deveriam ter o direito de
possuir armas atômicas?
As assimetrias não desaparecem
nem quando se consideram os países que mantêm a bomba extra-oficialmente (Israel, Índia e Paquistão).
Por que os EUA e seus aliados pressionam tanto o Irã para encerrar o
seu programa nuclear e ignoram o
arsenal israelense?
Por que Washington ameaça a Coréia do Norte, que denunciou o TPN,
o que, em tese, lhe daria o direito de
possuir armas, e deixa quase em paz
a Índia e o Paquistão? A questão é
ainda mais premente quando se considera que esses dois países vivem
em estado de beligerância permanente. Se existe hoje algum cenário
em que é imaginável o emprego de
bombas nucleares, ele envolveria a
Índia e o Paquistão.
E, por mais irrealista que pareça, já
não seria hora de cogitar um tratado
que preveja a destruição dos arsenais
nucleares do planeta?
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