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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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RISCO NUCLEAR

É positivo o anúncio de que o Irã concordou em suspender seu programa de enriquecimento de urânio e em assinar um protocolo adicional ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TPN), o que permitiria à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), ligada à ONU, inspeções mais frequentes e aprofundadas a suas instalações.
O saudável ceticismo, contudo, recomenda alguma cautela. O poder no Irã está dividido entre o governo do reformista presidente Mohamad Khatami e os clérigos conservadores liderados pelo aiatolá Ali Khamenei. Sob muitos aspectos, são os religiosos que detêm o real poder no país. E são eles, e não o governo, que acalentam sonhos de tornar o Irã em breve uma potência nuclear.
Assim, antes de considerar o caso iraniano um episódio resolvido, é necessário esperar para ver como as autoridades da AIEA serão recebidas no país quando de suas inspeções.
O mundo deveria celebrar como uma vitória da razão sobre a força bruta cada país que renuncia espontaneamente a produzir e a estocar armamento nuclear. Essa constatação, contudo, não deve impedir que se aponte para a verdadeira hipocrisia que marca a política antinuclear do mundo. Para começar, por que apenas EUA, Rússia, Reino Unido, França e China deveriam ter o direito de possuir armas atômicas?
As assimetrias não desaparecem nem quando se consideram os países que mantêm a bomba extra-oficialmente (Israel, Índia e Paquistão). Por que os EUA e seus aliados pressionam tanto o Irã para encerrar o seu programa nuclear e ignoram o arsenal israelense?
Por que Washington ameaça a Coréia do Norte, que denunciou o TPN, o que, em tese, lhe daria o direito de possuir armas, e deixa quase em paz a Índia e o Paquistão? A questão é ainda mais premente quando se considera que esses dois países vivem em estado de beligerância permanente. Se existe hoje algum cenário em que é imaginável o emprego de bombas nucleares, ele envolveria a Índia e o Paquistão.
E, por mais irrealista que pareça, já não seria hora de cogitar um tratado que preveja a destruição dos arsenais nucleares do planeta?


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