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Geraldo, Lula e as elites
ALBERTO GOLDMAN
Se comparações podem
ser feitas, muito mais
Lula do que Geraldo
Alckmin representa os
interesses das elites
"Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade." (Joseph Goebbels)
SEGUNDO A campanha petista,
Geraldo Alckmin seria o candidato das elites, enquanto Lula
representaria os pobres deste país.
Quais são os fatos?
Geraldo é de família de classe média, tem formação universitária e desde jovem atua na vida política exercendo diversos cargos eletivos, sempre do lado certo.
Lula tem origem de família pobre do Nordeste, tem pouca
formação escolar, veio para São Paulo
como milhões de migrantes nordestinos e chegou a líder sindical. Quanto à
origem e à formação, Geraldo faz parte da elite intelectual do país. Lula,
não, porque não quis. Tempo e condições não lhe faltaram.
Contudo, Lula teve mais acesso aos
bens materiais -e propriamente ao
poder- que Geraldo, pois comandou
um dos maiores sindicatos da América Latina. Conheceu o inescrupuloso
jogo do poder que utiliza com maestria na função que exerce. Aprendeu a
trocar favores para manter lealdades.
Lula não é mais aquele homem pobre e humilde de outrora. No exercício do poder federal, atendeu interesses de grandes grupos empresariais,
que por isso o apóiam, e de centenas
de membros da elite sindical, que deixaram a sua função para se refestelar
em cargos públicos.
Enquanto membros da família de
Lula, em tenra idade, passaram a possuir patrimônio invejável por meio da
associação com grandes grupos concessionários de serviços públicos, Geraldo e família continuam com vida
modesta. Se comparações podem ser
feitas, muito mais Lula do que Geraldo representa os interesses das elites.
No governo anterior, o Bolsa-Escola era a contrapartida para possibilitar que famílias abaixo da linha da pobreza mantivessem seus filhos na escola. Criavam-se, assim, as condições
para seu desaparecimento no tempo,
quando os filhos já não estivessem em
idade escolar ou quando a obtenção
de um emprego tornasse desnecessária a ajuda. O Bolsa Família, instituído
por Lula, é assistencialismo puro,
provoca dependência permanente.
Para as elites dominantes, particularmente no Nordeste, não interessa
a incorporação de milhões de pessoas
à cidadania. Melhor é mantê-las -em
troca de um punhado de reais- na exclusão e na ignorância, como massa
de manobra.
No que diz respeito às estatais, as
elites empresariais e sindicais sempre
influenciaram fortemente as suas
ações. As empresas telefônicas estatais, por exemplo, pouco produziam.
Só serviam, pelos fundos de pensão,
aos interesses de seus próprios funcionários, dos líderes sindicais e,
principalmente, de seus dirigentes, lá
colocados por interesses políticos.
Nelas se enraizavam os grupos econômicos privados que sugavam seus recursos de forma predatória.
A Vale do Rio Doce, por sua vez, era
pouco lucrativa e pouco colaborava
com o esforço exportador na área mineral. Em uma mina da empresa, no
Pará, ouvimos dos gerentes que os
baixos investimentos e as limitações
impostas à empresa, por ser estatal,
impediam seu crescimento. Hoje, privada, tem alta lucratividade e é uma
das maiores exportadoras do mundo.
O mesmo vale para a Embraer e as
usinas siderúrgicas. Não fosse a privatização, as exportações seriam bem
menores, e os nossos índices de crescimento, ainda mais medíocres.
Outras empresas estatais não foram e não devem ser privatizadas,
porque não convém ao país.
Quando da quebra do monopólio
estatal do petróleo, o PT alardeava
que queríamos privatizar a Petrobras.
Sugeri, então, ao presidente FHC -e
ele o fez- a redação de um compromisso, o qual foi lido nos plenários da
Câmara e do Senado, de não privatização da estatal. Foi respeitado o interesse nacional, pois a Petrobras,
além de grande fornecedora de recursos ao caixa da União, não podia deixar de ser um monopólio estatal para
se tornar um monopólio privado.
O Banco do Brasil também não deve ser privatizado por ter funções públicas que o diferenciam de um banco
com objetivos puramente comerciais.
Cada caso é um caso. Fora disso, é
oportunismo eleitoral.
Lula nos acusa de defendermos
projetos que não temos, como, aliás, o
PT fez há quatro anos, quando nos
acusou de aprovarmos leis eliminando direitos trabalhistas. São adeptos
de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do regime nazista.
A ausência de escrúpulos é uma característica de parte das elites econômicas e sindicais, que privilegiam os
ganhos nos negócios e o enriquecimento pessoal. Quando se juntam para transformar-se em poder político,
sob o comando de um presidente com
as mesmas concepções morais, é o
país que sofre.
ALBERTO GOLDMAN , 69, é deputado federal, vice-presidente nacional do PSDB e vice-governador eleito de São
Paulo.
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