São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

A ditadura não morreu

MADRI - Nicolas Sarkozy, o presidente francês, é difícil de ser enquadrado nas casinhas que tradicionalmente usamos para definir os políticos, tipo "direita", "esquerda", "populista", "liberal" e por aí.
A única que definitivamente se aplica a ele é hiperativo.
A sua mais recente frase de efeito é de ontem -e é daquelas que faz a alegria de qualquer editor de jornal incumbido de produzir títulos. "A ditadura do mercado sobre os poderes públicos está morta, com a crise", decretou.
Até gostaria que fosse verdade, não por amor ao Estado ou por ódio ao mercado, mas porque ditadura é ruim em qualquer circunstância, qualquer que seja ela. E Sarkozy tem razão ao dizer que os mercados se impuseram de forma absoluta sobre os poderes públicos nos últimos muitos anos. Mas, se o diagnóstico está correto, não quer dizer que a situação vá evoluir no rumo imaginado por Sarkozy. Pode até ser que, no susto, os poderes públicos recuperem capacidade de ação e tratem de promover uma melhor distribuição de poderes.
Mas o que se está vendo, até agora, continua sendo a ditadura dos mercados. Os governos estão, sim, agindo, estão, sim, intervindo (mais até do que gostariam), mas o fazem sob pressão dos mercados, para salvá-los.
Se você duvida, anote aí o que disse ontem um dos comissários europeus, Günther Verheugen: "Não será fácil para os políticos explicar aos trabalhadores porque centenas de bilhões de euros estão disponíveis para o sistema bancário, mas não estão quando uma indústria inteira está com problemas" (refere-se à indústria de autos).
Não é preciso ser especialmente esperto para aumentar a lista de setores com problemas. E seria demagógico dizer que os trabalhadores de todos esses setores têm problemas ainda maiores -e nenhum pacote à vista?

crossi@uol.com.br



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