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CLÓVIS ROSSI
A ditadura não morreu
MADRI - Nicolas Sarkozy, o presidente francês, é difícil de ser enquadrado nas casinhas que tradicionalmente usamos para definir os políticos, tipo "direita", "esquerda",
"populista", "liberal" e por aí.
A única que definitivamente se
aplica a ele é hiperativo.
A sua mais recente frase de efeito
é de ontem -e é daquelas que faz a
alegria de qualquer editor de jornal
incumbido de produzir títulos. "A
ditadura do mercado sobre os poderes públicos está morta, com a crise", decretou.
Até gostaria que fosse verdade,
não por amor ao Estado ou por ódio
ao mercado, mas porque ditadura é
ruim em qualquer circunstância,
qualquer que seja ela. E Sarkozy
tem razão ao dizer que os mercados
se impuseram de forma absoluta
sobre os poderes públicos nos últimos muitos anos.
Mas, se o diagnóstico está correto, não quer dizer que a situação vá
evoluir no rumo imaginado por Sarkozy. Pode até ser que, no susto, os
poderes públicos recuperem capacidade de ação e tratem de promover uma melhor distribuição de
poderes.
Mas o que se está vendo, até agora, continua sendo a ditadura dos
mercados. Os governos estão, sim,
agindo, estão, sim, intervindo (mais
até do que gostariam), mas o fazem
sob pressão dos mercados, para
salvá-los.
Se você duvida, anote aí o que disse ontem um dos comissários europeus, Günther Verheugen: "Não será fácil para os políticos explicar aos
trabalhadores porque centenas de
bilhões de euros estão disponíveis
para o sistema bancário, mas não
estão quando uma indústria inteira
está com problemas" (refere-se à
indústria de autos).
Não é preciso ser especialmente
esperto para aumentar a lista de setores com problemas. E seria demagógico dizer que os trabalhadores
de todos esses setores têm problemas ainda maiores -e nenhum pacote à vista?
crossi@uol.com.br
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