São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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CLÓVIS ROSSI
O fim dos aventureiros

SÃO PAULO - O sistema partidário, no Brasil como na América Latina toda, nunca foi lá grande coisa. Mesmo assim, é melhor do que a escolha de "outsiders".
É a lição que fica da década dos 90, com os seus Fernando Collor, Alberto Fujimori e companhia limitada. Em todos os casos em que o sistema de partidos foi atropelado por um aventureiro, acabou em desastre.
Collor, o primeiro deles, foi também o primeiro presidente da história universal a ser afastado por meio de um impeachment, por falta de decoro para o exercício do cargo. Seu êmulo, o peruano Alberto Fujimori, acaba de conhecer idêntico destino, para todos os efeitos práticos.
Antes, o equatoriano Abdalá Bucaram, apelidado adequadamente de "El Loco", viu-se igualmente obrigado a abandonar o poder às pressas.
Quem gosta de aventuras dirá, com certa razão, que governantes surgidos dos partidos tradicionais também tiveram percalços graves (o suicídio de Getúlio Vargas, para ficar num único exemplo).
Mas é razoável imaginar que tais percalços tenham sido decorrentes mais da debilidade institucional dos países latino-americanos e da pressão norte-americana para afastar "comunistas" e afins do que de deficiências intrínsecas das vítimas.
Por mais desastradas que fossem (ou continuem sendo) suas gestões, não se chega a uma demanda social tão violenta pelo afastamento dos governantes como aconteceu nos casos Collor e Fujimori.
A esquerda esgrimirá o exemplo de Hugo Chávez (Venezuela) para provar que, fora do sistema de partidos, há salvação, sim. Talvez. Mas, 22 meses depois de sua posse, 22% dos venezuelanos continuam desempregados e 55% estão na informalidade, o que dá pouco menos de 80% na pobreza. Claro que Chávez herdou esse desastre, mas ascendeu justamente porque se disse capaz de corrigi-lo.


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