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CLÓVIS ROSSI
O fim dos aventureiros
SÃO PAULO - O sistema partidário, no Brasil como na América Latina
toda, nunca foi lá grande coisa. Mesmo assim, é melhor do que a escolha
de "outsiders".
É a lição que fica da década dos 90,
com os seus Fernando Collor, Alberto
Fujimori e companhia limitada. Em
todos os casos em que o sistema de
partidos foi atropelado por um aventureiro, acabou em desastre.
Collor, o primeiro deles, foi também
o primeiro presidente da história universal a ser afastado por meio de um
impeachment, por falta de decoro para o exercício do cargo. Seu êmulo, o
peruano Alberto Fujimori, acaba de
conhecer idêntico destino, para todos
os efeitos práticos.
Antes, o equatoriano Abdalá Bucaram, apelidado adequadamente de
"El Loco", viu-se igualmente obrigado a abandonar o poder às pressas.
Quem gosta de aventuras dirá, com
certa razão, que governantes surgidos dos partidos tradicionais também tiveram percalços graves (o suicídio de Getúlio Vargas, para ficar
num único exemplo).
Mas é razoável imaginar que tais
percalços tenham sido decorrentes
mais da debilidade institucional dos
países latino-americanos e da pressão norte-americana para afastar
"comunistas" e afins do que de deficiências intrínsecas das vítimas.
Por mais desastradas que fossem
(ou continuem sendo) suas gestões,
não se chega a uma demanda social
tão violenta pelo afastamento dos governantes como aconteceu nos casos
Collor e Fujimori.
A esquerda esgrimirá o exemplo de
Hugo Chávez (Venezuela) para provar que, fora do sistema de partidos,
há salvação, sim. Talvez. Mas, 22 meses depois de sua posse, 22% dos venezuelanos continuam desempregados e 55% estão na informalidade, o
que dá pouco menos de 80% na pobreza. Claro que Chávez herdou esse
desastre, mas ascendeu justamente
porque se disse capaz de corrigi-lo.
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