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Ataques no Rio
Reações de traficantes à política de segurança do Estado não podem intimidar autoridades, que precisam persistir no combate ao crime
Em "Cidade de Deus" (2002), a
narrativa sobre a violência no Rio
recobre um arco que vai do banditismo convencional da década de
1960 ao triunfo das quadrilhas de
traficantes fortemente armadas
nos anos 1980. A obra cunhou
uma linguagem, inaugurou um
subgênero e inspirou seguidores.
O mais bem-sucedido é o fenômeno popular "Tropa de Elite",
que, em dois episódios, enfoca a
tentativa de enfrentamento policial-militar do tráfico e o avanço
das milícias nas favelas cariocas,
em meio à corrupção de agentes
de segurança e políticos.
A mais recente investida do Estado do Rio contra o narcotráfico
foi a instalação de Unidades de
Polícia Pacificadora, as UPPs, em
áreas que eram dominadas por
narcotraficantes. O projeto de reocupar territórios tomados pelo crime baseia-se em policiamento
permanente, oferta de serviços e
ações de promoção da cidadania.
As favelas das UPPs ainda não
foram transportadas para as telas
de cinema, mas já inauguraram
um novo capítulo na história dos
conflitos entre forças de segurança e banditismo na cidade.
Nos últimos dias, uma onda de
arrastões, assaltos e automóveis
incendiados sacudiu o Rio. O vandalismo foi, ao que tudo indica,
orquestrado por marginais com o
intuito de assustar a população e
intimidar autoridades.
De um modo geral, as explicações convergem para o que seria
uma reação de quadrilhas e facções unidas contra a ofensiva do
Estado. A perda de pontos de venda de drogas, a política de enfrentamento implantada pelo governo
e o deslocamento de líderes do tráfico para o presídio federal de Catanduvas (PR), onde encontram
mais dificuldades para comandar
suas operações, seriam as causas
da revolta e dos atos "terroristas"
-semelhantes aos que tiveram lugar em São Paulo, em 2006.
Não há dúvida de que o caminho é perseverar, ampliar a presença da polícia nas ruas, avançar
com as UPPs e ir ao encalço dos
responsáveis pelos ataques -e
não apenas da arraia miúda.
São imensas no entanto as dificuldades a superar, desde a carência de efetivos e recursos policiais
à extensão e à profundidade que o
problema adquiriu.
Por ora, a "pacificação" promovida pelo governo, elogiada e reconhecida pela população, circunscreve-se a áreas relativamente pequenas, contíguas a bairros
nobres e de classe média do Rio
-a cidade turística da zona sul.
Muitos dos marginais atingidos
deslocam-se para regiões mais
afastadas, entre as quais os grandes "complexos" de favelas, como
o do Alemão, as principais cidadelas do narcotráfico.
Ocupá-las é um grande desafio,
que exigirá intenso preparo das
autoridades do Estado e apoio do
governo federal. Mas não há outra
alternativa, caso a capital olímpica de 2016 queira mostrar ao país e
ao mundo não mais cenas de
guerra, mas os seus conhecidos
cenários cinematográficos -sem risco de balas perdidas.
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